Viseu quer comboio em “velocidade elevada” e “transformar o aeródromo num aeroporto regional” – ECO

Jatos executivos e a carreira diária quase lotada dão ao aeródromo de Viseu o fôlego para mais ambição, diz Fernando Ruas. Nas ligações, exige o comboio e a autoestrada no IP3, há tanto prometidos.

Em Viseu há já quem esteja a trabalhar no sentido da criação de um cluster aeronáutico e Fernando Ruas nota que o avião diário que serve a cidade sai dali “quase sempre cheio” e que já existe trânsito de jatos com estrangeiros que vêm jogar golfe ou seguem para o Douro, ajudando as contas do aeródromo municipal a aproximarem-se do positivo.

A infraestrutura “tem lá uma série de empresas ligadas à aviação. É uma questão de potenciar isto, até pela sua localização”, diz o autarca. “Entre Lisboa e Porto não temos nenhum aeroporto. É uma questão, digamos, do poder central olhar para aqui”, refere, na entrevista ao ECO/Local Online.

O presidente da Câmara de Viseu ambiciona captar um investimento que permita criar uma infraestrutura regional. Um esforço acima de 100 milhões de euros, admite Fernando Ruas, o autarca que defende a sua obra com a imagem de que é melhor viver no Estoril e trabalhar na Brandoa do que o inverso. E, frisa, com a qualidade de vida que oferece à população, Viseu já superou as 100 mil pessoas.

Nesta entrevista, fala ainda da ferrovia, nota que “a velocidade elevada são 20 km/h menos que a alta velocidade” e considera que “com a dimensão do território aqui, não precisamos de alta velocidade”.

Ao ECO/Local Online, Fernando Ruas anuncia a condição para guiar o PSD de novo na corrida autárquica à presidência de Viseu, ligando a sua disponibilidade ao resultado das legislativas: “Candidato-me depois dos resultados de 18 de maio”.

Aeródromo de Viseu, para onde Fernando Ruas ambiciona criar uma infraestrutura regionalHugo Amaral/ECO

Viseu já deu sinais de querer fazer parte de um cluster aeronáutico de que se vai falando pelo país, apresentando um aeródromo com ligações ao norte e sul do país. Que condições existem para ser mais que uma vontade?

Neste momento, a ligação aérea é fundamental para Viseu. Pena é não termos voos com periodicidade mais intensa. O avião está quase sempre cheio, é um ótimo transporte. O aeródromo está quase em condições de não ser deficitário. Nós fomos captando investimentos, empresas ligadas à aviação e, neste momento, o nosso instituto Piaget tem um curso de aviação e um curso de mecânicos ligados ao aeródromo.

A apresentação do primeiro avião elétrico foi aqui. Nós estamos muito satisfeitos com o nosso aeródromo. Acho – tenho de explorar melhor essa ideia, embora tenha muitos apoiantes – que o aeródromo tem que ter um outro espaço em termos da sua gestão e do seu desenvolvimento. Não pode ser o aeródromo municipal. Estou mesmo, digamos, resolvido a, juntamente com a CIM (Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões), dar-lhe um caráter de comunidade.

Até porque ele não serve só a nós, serve mais gente fora da cidade, e isso permitiria que fosse mais um polo de desenvolvimento, como já é agora. Tem múltiplas potencialidades que não ainda não estão completamente exploradas.

E este aeródromo pode funcionar também como uma porta de entrada para investimento direto estrangeiro?

É exatamente isso. Aqui há uns anos eu participei num projeto europeu que se chamava Aeroportos Regionais. Fomos ver uma série de aeroportos regionais, alguém nos indicou como fazendo parte dos aeroportos regionais. A dimensão comparativa é uma diferença maluca para alguns aeroportos regionais. O nosso era um pigmeu, mas fomos envolvidos nisso. E achei piada ao conceito.

Os irlandeses, que nos começam a dar lições em todos os níveis, arranjaram um aeródromo para dinamizar uma região. Nós fazemos o contrário: quando a região está dinamizada, se calhar também preciso de um aeródromo. O nosso aeródromo podia ter múltiplas utilizações, mas que ninguém esteja a contar que se possa ser resolvido com financiamento municipal, não era possível.

O aeródromo está quase em condições de não ser deficitário. Nós fomos captando investimentos, empresas ligadas à aviação e, neste momento, o nosso instituto Piaget tem um curso de aviação e um curso de mecânicos ligados ao aeródromo.

E fazê-lo por via da CIM?

Mas, mesmo assim, sempre com a ajuda de financiamento nacional e europeu. Nós podíamos transformar o aeródromo num aeroporto regional. A quantidade de emigrantes que são daqui justificavam bem que houvesse carreiras diárias (que fizessem escala na ligação) entre Paris e Lisboa.

Esse investimento tem de ser feito por quem?

Pela administração central. Não era possível o orçamento da Câmara nem que empenhássemos quatro ou cinco anos do Orçamento. Mesmo a CIM não chega. A CIM é um avanço, mas há-de considerar-se como um dos aeroportos do tecido nacional. Nós temos aqui, de vez em quando, jatos executivos, vêm aqui alguns para jogar golfe, muita gente para ir para o Douro. Têm garagem gratuita.

Ele podia ter outro tipo de utilização. Não há muito tempo houve o avião que veio aqui buscar a seleção de futebol. Agora, sabemos que isto é para voos não regulares. A elaboração da pista, que tem um projeto definido, é um investimento com alguns milhões de euros, que não pode ser suportado nem pelo orçamento da Câmara nem mesmo pelo orçamento da CIM.

Quanto seria necessário para fazer deste um aeroporto relevante?

Mais de uma centena de milhões de euros, não tenho dúvida nenhuma.

E que economia há aqui na região que o justifique?

Seguramente, era uma questão de lhe dar a funcionalidade. O aeródromo tem tido uma evolução notável, era um pequeno aeródromo em terra batida, neste momento tem uma pista com dureza suficiente. Não tinha os controladores aéreos, não tinha diretor, e agora tem.

Neste momento, está a funcionar, tem lá uma série de empresas ligadas à aviação. É uma questão de potenciar isto, até pela sua localização. Entre Lisboa e Porto não temos nenhum aeroporto. É uma questão, digamos, do poder central olhar para aqui.

Referiu o Douro e o golfe. O turismo poderia dar viabilidade à infraestrutura, como acontece no Algarve, Açores e Madeira?

No número de turistas, o aumento foi de 4,7% a nível nacional, e na CIM tivemos 13,9%. Viseu cresceu numa taxa superior à CIM. É fácil de perceber isto. A câmara, há uns anos – eu não estava na câmara – teve que ceder gratuitamente um terreno para um hotel, o Hotel Grão Vasco. Viseu não tinha nenhum hotel. Neste momento nós temos quatro hotéis de cinco estrelas.

Temos um parque hoteleiro impressionante. Neste momento é possível fazer qualquer congresso aqui em Viseu. Quando fui presidente da associação (de municípios), nos primeiros anos, quando queríamos fazer o congresso – que tinha uma particularidade, tinha sempre mais de mil pessoas – nós fazíamos ou em Lisboa, ou no Porto ou na Madeira. Neste momento, já fizemos aqui com a associação de municípios e congressos partidários.

A câmara, há uns anos teve que ceder gratuitamente um terreno para um hotel, o Hotel Grão Vasco. Viseu não tinha nenhum hotel. Neste momento nós temos quatro hotéis de cinco estrelas. Temos um parque hoteleiro impressionante. Neste momento é possível fazer qualquer congresso aqui em Viseu.

Falando da região, por que não tem Viseu, capital de distrito, uma dimensão industrial como em concelhos vizinhos?

Nós temos aqui um dos maiores grupos económicos do país, a Visabeira, e que nunca saiu daqui. Eu fico muito mais descansado com essas. Aquelas que não são originárias, em qualquer altura se podem deslocalizar. Uma empresa de base familiar só sai na última. É por isso que a Visabeira nunca saiu daqui. E deixe-me dizer que nos ajudou ao desenvolvimento de forma impressionante.

Sei que visam o lucro, e muito bem. Nós queremos – ainda por cima com a grande admiração que tenho pelo proprietário – que vá por aí cima, como tem ido. Neste momento, já é muito maior a economia que têm fora do país, mas muito maior, que aquela que têm aqui, mas é um empregador impressionante e tem feito obras que podiam muito bem ser da responsabilidade da autarquia.

A Visabeira tem uma piscina olímpica, mas isso podia ser da responsabilidade da autarquia. Nós soubemos que havia uma empresa que fazia, retirámo-nos. A Visabeira até tem um jardim-de-infância. Nós gostamos é desse tipo de empresas. O doutor Jorge Sampaio, quando era presidente da República, levava muitas vezes o presidente da Visabeira nas deslocações oficiais – eu tinha uma excelente relação com o doutor Jorge Sampaio, por muitas ordens de razões, mas a primeira foi porque nós fomos para a Câmara na mesma altura.

Recordo-me, houve uma primeira reunião, uma convocatória em Coimbra para a associação de municípios, mal eu sabia que ia ser presidente da associação, encontrámo-nos os dois no bar – eu achei piada, era uma pessoa deliciosa a falar. Fiquei sempre amigo dele, até ao fim – e o doutor Sampaio disse “que é que faz com que o nosso amigo Fernando – que é o dono da Visabeira – venha na delegação, chega às duas, três da manhã, a primeira coisa que faz é ir no carro para Viseu?”

Em 2013, José Junqueiro, que era então candidato, acusou o PSD e, portanto, o executivo de Fernando Ruas, de ter deixado fugir a indústria para concelhos vizinhos. Não é isso que vemos quando olhamos para a região?

Essa acusação é recorrente, mas foi desmentida pela realidade. Quando saem os prémios das empresas Líder, das PME Excelência, das empresas Gazela, veja qual é o concelho que está de longe à frente dos outros, mas de longe. Na lista das 100 maiores empresas do distrito, quase 45% são do concelho de Viseu, e nós não somos 45% do peso no distrito. Isso é uma falácia.

Se me disserem, a indústria, assim, sem mais… quantas cidades se desenvolveram sem ter essa indústria pesada? Turismo também é indústria. Houve tantas cidades que encontrar o seu processo de desenvolvimento com o turismo. Até me custa dizer isto: quando um parque industrial empresarial é feito nos concelhos vizinhos, o principal beneficiário é Viseu, porque as pessoas vêm para aqui morar.

Costumo perguntar aos cidadãos que façam esta escolha: se queriam trabalhar no Estoril e viver na Brandoa, ou morar na Brandoa e trabalhar no Estoril. Portanto, façam essa escolha.

Centro da cidade de ViseuHugo Amaral/ECO

Portanto, Viseu é onde as pessoas querem morar?

É um princípio que não vou abandonar, já tenho idade mais que suficiente para não abandonar, porque acredito piamente. A responsabilidade maior do presidente da câmara é garantir a qualidade de vida dos cidadãos. E, depois, é que têm que pensar na estratificação da sociedade.

Tenho que garantir qualidade de vida para os cidadãos, que os cidadãos queiram morar, viver aqui. Depois, se vão trabalhar fora, já me preocupa menos. Ainda não há muito tempo fui visitar uma empresa no concelho de Lamego, e o dono da empresa disse-me que todos os dias vinha uma navete para Viseu, trazia os diretores e os engenheiros, e eu disse que é isso mesmo que quero.

É aqui que encontram um sítio ótimo para viver. E daí este crescimento populacional. Neste momento, somos do clube restrito dos municípios com mais de 100 mil habitantes. Desde 1990 até 2025, todos os censos temos aumentado população e no ano passado ultrapassámos a barreira dos 100 mil e agora passámos para 101 mil.

Dê-me um exemplo de grande conquista nestas décadas de Fernando Ruas como autarca.

A evolução nos estabelecimentos de ensino. A nossa Academia tem neste momento, talvez, mais de 10.000 alunos. O Piaget, o Politécnico e a Católica. Temos aqui o melhor curso de medicina dentária. Está cheio de italianos, a maioria dos estrangeiros são italianos. Um curso extremamente ambicionado. A Católica abandonou os cursos todos e aqui especializou-se na Medicina Dentária. Deve ter muita qualidade para as pessoas virem para cá.

O nosso politécnico tem 8.000 alunos. Em termos de estudantes, agora temos uma coisa que não sei se ela chegou à comunicação, estamos a fazer umas conferências, tipo conferências do Estoril, por convite, fechadas. Abrimos uma outra às comunidades, mas muito bem definidas e com conferencistas a nível mundial. Nós tivemos aqui o (investigador e filósofo Maurizio) Ferraris, o (filósofo Gilles) Lipovetsky, de altíssimo nível.

Temos uma por cada estação do ano. É uma experiência notável, permite-nos ter aqui em Viseu sempre gente que faz opinião. A câmara destina uma fatia enorme do seu orçamento à atividade cultural. Nós temos o festival da primavera, um conservatório, uma série de companhias de dança, uma orquestra juvenil que foi atuar ao São Carlos.

A Critical tem aqui uma série de postos de trabalho. Aquele gabinete de Prevenção contra a Violência no Desporto, temos aqui a sede nacional. A única coisa que está descentralizada de Lisboa.

Quando um parque industrial empresarial é feito nos concelhos vizinhos, o principal beneficiário é Viseu, porque as pessoas vêm para aqui morar. Eu costumo perguntar aos cidadãos que façam esta escolha: se queriam trabalhar no Estoril e viver na Brandoa, ou morar na Brandoa e trabalhar no Estoril.

Falando de investimentos, haverá obras por concluir aqui em Viseu até junho de 2026, limite do PRR?

Gostaria de ver o município que não tenha obras por concluir até 2026.

No caso de Viseu, o que faltará executar do PRR?

Ficarão algumas coisas que naturalmente, não as quantifico agora, mas vamos acabar muitas. Acabo de entregar 32 casas a casais jovens com menos de 40 anos e também a famílias com mais de 40 anos. Entregámos uma série de T1 com renda mensal de 210 euros, a custos acessíveis, o T4 a 430 euros.

Casas construídas com dotação do PRR?

Sim, sim. Nós comprámos quase 2 milhões de euros de casas na periferia, nas zonas rurais. Casas em ruínas. Casas que precisavam de arranjo, e vamos colocá-las em condições para as pessoas habitarem. Se o cidadão não tem casa, a habitação é o primeiro direito, de facto. Desde 2003 nós já entregámos casas a 1,750 famílias com um programa Viseu Habita, fizemos um investimento de mais de nove milhões de euros. E temos vindo a fazer isso anualmente desde 2003.

E na saúde? Como está a situação dos médicos de família?

Nos médicos de família temos a dificuldade, mas é uma parte pequenina da população que está a descoberto. Mas também é por uma outra razão que nós temos de ter em conta. Nós somos uma cidade que tem uma taxa de imigração muito grande. De manhã, tive reunião e apresentámos a nossa carta escolar.

Estive a dizer que mesmo a divulgação dos rankings das escolas já faz refletir isso. Se por acaso uma escola, nomeadamente periurbana, apanha muitos miúdos de nacionalidade diferente, é natural que a taxa de sucesso seja enfraquecida, por razões óbvias. Portanto, nós temos também essa particularidade, tivemos de arranjar habitação para os 80 mil que cá estavam e para mais 20 mil que se juntaram a nós. Agora, não temos os problemas que se veem por aí.

Eu fui deputado em Lisboa, tinha um quarto do hotel, um quarto com casa de banho e pagava na altura mil euros. Ainda não temos esses problemas que se têm em Lisboa.

Essas casas que refere, qual o critério de atribuição?

Por sorteio. Um casal iraquiano concorreu e apanhou um T2. Fizemos isso por sorteio. Selecionámos pessoas que estavam em condições para aceder às casas em arrendamento acessível. E depois fizemos o sorteio na frente deles. Gente que tenha emprego, não esteja sujeito habitação social, paga a renda.

Quem são esses beneficiários?

Uma mescla. Professores a concorrer, jovens que tenham emprego e imigrantes também. É isso que queremos também. Concorreram em pé de igualdade.

Eu fui deputado em Lisboa, tinha um quarto do hotel, um quarto com casa de banho e pagava na altura mil euros. Ainda não temos esses problemas que se tem em Lisboa.

Com tanto orgulho na obra, vai-se recandidatar?

Não sei. É mesmo não sei, não é para fugir à pergunta. Eu tenho o meu ponteiro no zero. E a razão é simples. Candidato-me depois dos resultados de 18 de maio. Tenho muitos compromissos com governantes e são com aqueles governantes, e depois hei-de fazer o exame de quem é que estará…

Vencendo o PS no dia 18, será mais improvável a sua recandidatura a um segundo mandato?

É capaz de ser mais difícil por uma razão, é que os problemas que eu pus e que condicionam a minha candidatura, já foram colocados anteriormente ao Governo PS e não tiveram grande solução. Falo do IP3, falo da barragem de Fagilde, do comboio, enfim, de uma série de coisas. São essas questões que agora me são ditas que vão ser resolvidas.

Lembro que o primeiro-ministro esteve com o ministro das Infraestruturas há pouco tempo em Tondela a lançar o IP3 e a dizer que ia ser requalificado com perfil de autoestrada de ponta a ponta, foi mesmo o termo usado. Eu tenho isso para cobrar. Se por acaso o meu partido me dissesse “arrependemo-nos, já não vamos fazer isto”, eu também já cá não estava. Os dirigentes do meu partido sabem isto.

O candidato a primeiro-ministro pelo PS foi recentemente ministro das Infraestruturas. Não consegue esse compromisso de Pedro Nuno Santos para o IP3, por exemplo?

Já foi pessoa com quem dialoguei enquanto ministro das infraestruturas.

E não aconteceu nada no que concerne ao IP3?

Não aconteceu nada. Mas deixe-me dizer-lhe uma coisa: se for à câmara de Mortágua, no hall de entrada está uma placa a dizer lançamento da primeira pedra da autoestrada Viseu-Coimbra, 2008 – a não ser que a tivessem tirado de lá há pouco tempo. Está lá. E vê-se quem é que lá está, quem deu origem àquela placa, são rostos bem conhecidos. Foi prometida sucessivamente.

Há décadas que está prometida uma solução para a estrada cuja sinistralidade rodoviária justificou a criação de uma Associação de Utentes e Sobreviventes do Itinerário Principal (IP) 3Hugo Amaral/ECO

O IP3 abriu na altura da sua primeira candidatura a Viseu. Por que não foi ainda substituído por autoestrada, como, aliás, aconteceu no IP5, que é contemporâneo?

Há razões adicionais, mas uma é por falta de vontade política. A A24 pretendia ser a ligação entre Chaves até Coimbra, na A1. Ela ultrapassou a A25 a sul por uma reivindicação minha, exatamente para garantir que ela ia ser feita a sul. Ficou uns quilómetros para baixo, mas depois nunca mais teve continuidade para sul.

É mais uma promessa inconsequente no país?

Depende dos interlocutores. Agora, acho que vai funcionar. Eu sempre reivindiquei. Também temos que reconhecer que houve variantes naquilo que era a tipologia que se queria. Saí daqui para o Parlamento Europeu com um corredor que estava definido, quando cheguei já havia outro. E eu costumo dizer às pessoas que levar uma alteração ao Governo central, seja qual for, é música para os ouvidos.

“Sim senhor, já é para demorar…” Isso é o que mais querem ouvir. Possivelmente, também foi por alguma hesitação de qual o verdadeiro corredor que se queria para o IP3.

Entre as “obras de Santa Engrácia” para a região está também a linha ferroviária da Beira Alta.

Essa está concluída, agora são pormenores.

Uma formulação possível para descrever, mas continua fechada. Três anos de atraso na construção e continua por abrir, agora pelos ditos pormenores.

Há quem diga que ela demorou mais tempo em obras de requalificação do que a ser feita, inicialmente. Aliás, está provado.

Obra que foi feita no século XIX, tal como a Linha do Dão, cujo encerramento é contemporâneo da sua chegada a presidente.

Deixe esclarecer isso, é factual. Há muita gente a insistir nisso. Quando cheguei à câmara, o ramal do Dão e o Vouga, estavam extintos. Foram extintos antes de eu chegar à câmara, não foi comigo. Mas também digo que quem cá estava não podia fazer nada. Uma coisa importante: nós fomos a primeira câmara a utilizá-la como ecopista. O corredor está lá.

O traçado do ramal do Dão é um traçado que ninguém entende, faz uma série de variantes, pela força que tinha um ministro das obras públicas da altura, que tinha muita força e desviou para passar na terra dele. O Tomás Ribeiro, uma pessoa que nós admiramos muito – mais que um poeta, foi um humanista. O comboio para Santa Comba Dão, no ramal do Dão, demorava duas horas. Fazem-se 16 minutos de carro. O traçado era inimaginável. Mas, de qualquer maneira, se quiserem aproveitar alguma vez para voltar a pôr o caminho-de-ferro, a única forma de o preservar foi a ecopista, que está lá.

Se alguém preservou o canal, fomos nós. O Ramal do Dão tem uma ponte Eiffel, a Ponte de Mosteirinho. Quando mandei fazer a ecopista, a Ponte de Mosteirinho estava para ser desmanchada e vendida para o ferro velho. A maioria dos terrenos já estavam ocupados, porque esteve tantos anos sem utilização que houve proprietários que entraram. Nós fizemos a ecopista do Vouga e tivemos, com a GNR, de desentupir uma parte que já tinha sido ocupada, até com uma casa.

A Ponte de Mosteirinho, originalmente da Linha do Dão, é uma obra da casa Eiffel, tal como a Ponte D. Maria no Porto e a de Viana do Castelo. Segundo Fernando Ruas, estava pronta para desmontagem e venda do material para o ferro velho quando o autarca decidiu criar a Ecopista do Dão, na qual se integra.Hugo Amaral/ECO

E assim, chegamos aqui pela A24 ou pela A25, por avião, qualquer dia pelo futuro IP3. Quanto a comboio, é uma capital de distrito desprovida, tal como Bragança e Vila Real aqui perto, ambas afetadas pela mesma vaga de encerramento da ferrovia a partir do final dos anos 1980.

É a única capital com mais de 40 mil habitantes da União Europeia que não tem comboio. No Livro Branco dos Transportes da União Europeia está, na rede de transportes europeia, o chamado Corredor Atlântico, a ligação Aveiro-Viseu -Guarda, Vilar Formoso, Salamanca. Está lá.

E quando chega o comboio?

Eu tenho a garantia do atual ministro. Essa é também uma das coisas que me leva a esperar. O Plano Nacional Ferroviário faz esta ligação em três fases. A primeira, ligação de Viseu à Linha da Beira Alta, o que significava que, numa primeira fase, deixávamos de ter esta condição de não estar ligados ao caminho de ferro. Depois, defende a segunda fase, de Viseu a Aveiro, e depois da linha da Beira Alta até à fronteira. É como está definido o corredor ferroviário.

Gostaria que fosse em alta velocidade?

Este é o corredor atlântico. Estamos a falar de velocidade elevada de transporte misto. A velocidade elevada são 20 km/h menos que a alta velocidade. Com a dimensão do território aqui, não precisamos de alta velocidade. Os portos de Leixões, de Aveiro e da Figueira da Foz esperam por este corredor. É por aqui que deve ser a ida das mercadorias para o centro da Europa.

Promessa do ministro cessante?

Promessa do ministro, que foi interrompida.

Mas sendo quase todos os ministros cabeças de lista para as legislativas, haverá legitimidade destes para voltar atrás se houver continuidade após 18 de maio?

Por isso é que eu penso duas vezes. Tenho compromissos com este Governo, também tentei com os outros, mas com este tenho compromissos que foram repetidos por quem de direito, aqui.