Sonegadores fiscais usam notícias falsas para derrotar o Brasil |

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Os sonegadores venceram uma disputa com o governo brasileiro, que revogou a Ordem Normativa nº 2.219 emitida pela Receita Federal em setembro de 2024, com foco na popularidade dos sonegadores. A medida exige que bancos, operadoras de cartão de crédito e empresas fintech notifiquem o Fisco de todas as transferências realizadas através do PIX durante o mês que totalizem mais de 5.000 reais (781 euros). Pela regra, a Receita Federal equipara o PIX a outros instrumentos de movimentação financeira, como contas correntes, dinheiro em espécie e cheques. Uma forma de dar transparência e segurança às transações e, o mais importante, de pegar quem não paga impostos mesmo que tenha renda para isso.

A “Diretiva Padrão” entrou em vigor em 1º de janeiro deste ano. Foi amplamente negociado com o Banco Central responsável pelo monitoramento do PIX. Nos últimos dias, porém, políticos de extrema direita começaram a espalhar notícias falsas de que o governo começará a impor um imposto de transferência através do PIX. Essa mentira fez com que muitas pessoas suspendessem o uso do instrumento financeiro, e comerciantes sem escrúpulos passaram a cobrar taxas extras dos consumidores pelos pagamentos realizados por meio do PIX.

O que a extrema direita está fazendo é um desserviço ao Brasil. Primeiro, espalhando o medo entre os consumidores, especialmente os consumidores de baixa renda (principais usuários do PIX). Em segundo lugar, ao protegerem os evasores fiscais, estes utilizam uma estratégia de transferência de pequenas quantias ao longo do mês para evitar serem apanhados pelas autoridades fiscais – a mesma abordagem utilizada pelo crime organizado. Sim, essas pessoas devem estar rindo do recuo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ordenou que a Receita Federal revogasse a Diretriz Normativa, regulamento que visa regular o fluxo de recursos pelo sistema financeiro.

O combate à sonegação fiscal é responsabilidade da Receita Federal. É injusto que os trabalhadores regulares tenham os impostos deduzidos directamente dos seus salários e os seus dados bancários dissecados, enquanto uma onda de aproveitadores explora falhas legislativas para evitar o cumprimento das suas obrigações. Até alguns políticos estão habituados a este processo e, claro, aqueles que lideram a propagação de notícias falsas estão na linha da frente desta equipa. Quando aparecem em público como homens de família, fiéis e defensores dos bons costumes, temem ser apanhados cometendo um crime. Pura hipocrisia.

Porém, é inegável que a Receita Federal abriu espaço para operações tão bem planejadas e encontrou terreno fértil nas redes sociais. Ao editar a diretriz normativa, o Fisco não explicou qual era o objetivo da medida. Ele nem sequer ligou para a mídia profissional para esclarecer quaisquer preocupações. Ao permanecer em silêncio, o comando do IRS permite que os evasores fiscais, representados por políticos de extrema direita, preencham o vazio com mentiras. Agora o governo tenta conter os danos revogando a regra e sancionando o discurso daqueles que espalham as mentiras.

O Brasil não pode ser governado com base no que circula nas redes sociais. A diretriz normativa emitida pelo departamento fiscal será um avanço para o país. Isto tiraria das sombras os evasores fiscais, que consideram a extrema direita o parceiro ideal para continuar a espremer fundos públicos.