Em 2023, aos 34 anos, Marina Gonçalves tornava-se a mais jovem ministra da história da política portuguesa, lugar até então ocupado por Assunção Cristas, para agarrar a desafiante pasta da Habitação. Apresentou e começou a pôr em prática o pacote Mais Habitação com o objetivo de conseguir garantir para todos uma "habitação digna" e "compatível com os rendimentos das famílias".
Com pouco mais de um ano de trabalho no Governo, admite, em entrevista ao Notícias ao Minuto, que "não ficou tudo feito, identificado e andar" mas, com o novo programa, o PS promete uma resposta focada na "habitação pública" e sem a "propaganda" que considera ter sido feita pela AD.
Nestas eleições, tal como há um ano, Marina Gonçalves é cabeça de lista do PS pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo, região de que é natural e de que fala com orgulho pela cultura, tradição e por terem feito "das tripas coração", no último ano, para que não se sentisse tanto, no Alto Minho, o "desinvestimento" do Governo da AD no Serviço Nacional de Saúde.
No Parlamento, a representar a região, quer contribuir sobretudo para melhorar as acessibilidades, mas não só, e vê Pedro Nuno Santos, com quem trabalha de perto há já vários anos, como o primeiro-ministro certo para o país por trabalhar, "todos os dias, em prol das pessoas".
Para já, na última semana de campanha, não quer "fazer cenários hipotéticos de futuro", mas também não "fecha portas" a um possível regresso a um cargo de governação. Até 18 de maio só tem como "preocupação e prioridade" dar a conhecer o projeto do PS aos portugueses, que defende como "o melhor para a população".
Um projeto que é para todos e que não distingue em função de nada, nem da localização, nem da cultura e tradição, ou do rendimento e da condição de cada pessoaA campanha do PS começou no Alto Minho e com um comício em Viana do Castelo. Por que escolheram essa zona do país para o arranque?
Serei sempre parcial, mas todo o país tem a sua importância e relevância. Para nós foi muito importante podermos lançar a campanha naquele que é um distrito fundamental não só no desenvolvimento económico e social, mas também pela cultura e tradições. Tivemos a oportunidade de estar em Ponte de Lima reunidos do que de melhor o Alto Minho tem, no que diz respeito às tradições. Sendo eu parcial na avaliação do sítio que se escolheu para o arranque da candidatura – porque acho que foi o melhor do país – o que é certo é que representa aquilo que é o nosso país, a sua riqueza cultural. No que diz respeito a programas tivemos certamente a oportunidade de ver questões mais concretas de cada território que são mais importantes, mas no que respeita ao programa do partido socialista há uma coisa que o distingue: independentemente do sítio onde arrancamos a campanha, é igual a mensagem.
Um projeto que é para todos e que não distingue em função de nada, nem da localização, nem da cultura e tradição, ou do rendimento e da condição de cada pessoa. Sim, é certo que para mim foi uma honra poder começar no Alto Minho, mas certo é também que não distingue a prioridade que é dada a cada território, embora no nosso território existam algumas especificidades de mensagem do projeto político que são mais relevantes tendo em conta as necessidades.
Nestes dias têm estado pelas ruas, junto das pessoas dessa região do país. O que é que as pessoas vos têm dito? Que principais problemas apontam como prioridade?
Aqui no Alto Minho há duas dimensões muito importantes. Numa dimensão global são importantes, mas aqui têm um nível ainda maior de complexidade e de preocupação, que têm a ver com a saúde e com as acessibilidades, que acabam também por estar ligadas. Somos um território que tem um hospital central, uma ULS com duas respostas mais centrais, em Viana e Ponte de Lima, e depois temos os centros de saúde em cada território. A dimensão de proximidade está depois ligada à questão das acessibilidades, mas a proximidade do serviço que prestamos às pessoas, com o Serviço Nacional de Saúde, é uma dimensão muito importante não apenas nas respostas que ainda faltam, que são questões nacionais. Aliás, o Partido Socialista assumiu, quer na saúde oral, quer saúde mental a prioridade de dar esta resposta aos portugueses, mas no nosso território ainda temos mais necessidades que, por estarem mais concentradas em determinadas zonas deixam, de alguma forma, secundarizadas parte da população.
Por isso é que para nós é importante, quando falamos de saúde, reforçar a resposta da proximidade utilizando os nossos centros de saúde, que vão ser reabilitados também. É bom lembrar porque o PS pôs no PRR essa reabilitação, mas é importante que com essa reabilitação surja também uma resposta de proximidade. Dou sempre o exemplo de Melgaço que, do ponto de vista de acessibilidade, é aquele que tem menores respostas apesar do investimento que foi feito no nosso território. Tivemos uma eletrificação da Linha do Minho, que nos permite hoje fazer as viagens de forma mais célere, com melhor resposta e com ligações mais alargadas dentro e fora do território, apesar de algumas evoluções que se fez do ponto de vista de rodovia com acessos – também no tempo do Partido Socialista – às zonas empresariais, como é o caso, por exemplo, de Paredes de Coura. Apesar de algumas ligações que se fizeram em Viana, nós ainda temos muitos territórios que não são servidos pela ferrovia nem por essas ligações. Dava o exemplo de Melgaço, como podia dar o exemplo de Monção.
Em cada concelho temos sempre estas dimensões, mas estes são os casos mais problemáticos. Estamos a falar, muitas vezes, de hora e meia de distância de respostas de saúde e nós não podemos aceitar isto como normal e por isso é que a resposta de proximidade e a melhoria das acessibilidades são mesmo uma prioridade. Aqui há várias dimensões importantes que as pessoas referem, não apenas a melhoria da rodovia, que é a principal resposta no nosso distrito, mas também a questão do transporte coletivo. Nós criámos um passe que foi fundamental nas áreas metropolitanas e nas zonas maior com maior oferta de transporte público, só que temos um défice de transporte coletivo no nosso território e esta dimensão é fundamental, é muito referida pelas pessoas e é, para nós, muito prioritária. Tem muito um trabalho da componente mais municipal e intermunicipal, mas o Governo e o Parlamento têm de ser parte da ativa desta solução, não apenas ponto de vista de investimento, mas de estratégia, de como é que esta rede deve ser implementada no território.
Na questão da saúde, tem sido constantemente referido pelo PS que o Governo da AD agravou os problemas e dificuldades do SNS. No caso concreto do Alto Minho, como é que esses problemas mais se sentiram?
Por respeito aos alto minhotos temos de dar esta resposta com todo o contexto. Nós estivemos oito anos no Governo, houve um conjunto de melhorias nos centros de saúde, nos investimentos que foram feitos, mas há um caminho a fazer e que devemos assumir. Bem sei que o cabeça da lista da AD pelo distrito (José Pedro Aguiar Branco, presidente da Assembleia da República) não gosta de falar sobre o distrito, talvez porque não o conheça, mas se falarmos com os deputados do distrito e que conhecem o Alto Minho, eles bem sabem da importância de podermos investir em melhores condições para o hospital. Portanto, se coloco esta questão como prioridade, também tenho de dizer com seriedade que não foi algo que aconteceu no último ano. É algo que aconteceu nas últimas décadas e ainda não foi feito o investimento devido para reforçar, nomeadamente, as urgências pediátricas no hospital que serve todo o distrito, o Hospital de Viana. Até me custa dizer, mas tem contentores que eram para ser temporários.
Temos que ser rigorosos e sérios na forma como abordamos. Há situações no SNS, no caso de resposta no Alto Minho, que não decorrem apenas deste último ano. É preciso consenso alargado para podermos fazer esse tipo de investimentos, mas impacta diretamente no nosso território a falta de estratégia na área da saúde. Se calhar há uma estratégia, mas é diferente da resposta universal do Serviço Nacional de Saúde. Ao contrário de muitas zonas do país, a resposta dos médicos de família no nosso território é bastante alargada, para não dizer que é plena.
Dou o meu exemplo. Tenho médico de família desde que nasci e já mudei porque o meu médico de família inicial se reformou e sempre tive um acompanhamento do médico família, que é mesmo fundamental para dar a tal resposta de proximidade que dizia. No último ano, o Governo afastou-se de uma resposta coerente de reforço dos médicos de família, sobretudo quando temos uma clara evidência de que muitos destes médicos se vão reformar. O último ano foi de muita opacidade – para não dizer outra coisa - na gestão dos médicos de família, que era uma das grandes promessas. Tivemos um Governo da AD que assumiu compromissos com os portugueses, como se fosse tudo fácil. Tomara nós que os problemas estruturais se resolvessem assim, seja na Saúde ou na Habitação, que são áreas onde não basta estalar os dedos para as coisas acontecerem.
Este último ano foi de desinvestimento, sem estratégia política para o Serviço Nacional de Saúde. Foi um ano com muita perceção e propaganda mas, no fim do dia, sem solução concreta para os problemas
Não houve melhorias no acesso às urgências, consultas ou cirurgias?
Não podemos apresentar-nos aos portugueses com perceções, mas sim com a seriedade que estes temas nos colocam e no caso da Saúde é paradigmático. O Governo disse que em 60 dias apresentava um plano com medidas de emergência a curto prazo para resolver os problemas centrais. O certo é que, passado um ano, temos a situação igual e bem sabemos todos que o igual não chegava para as necessidades que o SNS tinha. Temos mesmo um SNS pior. Tivemos também uma opacidade nos dados que é comum. Quando não temos resposta, tiramos os dados, seja no acesso às urgências, seja no acesso à consultas ou a cirurgias.
Depois, no dia a dia, as pessoas sentem o SNS cada vez mais afastado das suas necessidades e isso refletiu-se em todo o território e também no nosso distrito. Aliás, permita-me dizer que se não se refletiu tanto no nosso distrito é porque temos mesmo um território muito aguerrido que vai conseguindo dar resposta, mesmo nas maiores dificuldades e, ainda assim, tenho orgulho de dizer que fomos conseguindo. Não estou a assumir, de todo, para mim algo que não é meu, mas como alto minhota tenho orgulho de ver todo os profissionais de saúde no distrito a fazerem, como se costuma dizer, das tripas coração para poder responder. Este último ano foi de desinvestimento, sem estratégia política para o Serviço Nacional de Saúde. Foi um ano com muita perceção e propaganda mas, no fim do dia, sem solução concreta para os problemas. Aquilo que os hospitais identificavam como necessidades, da parte do Governo não tiveram nenhuma estratégia desenhada ou sequer autorizada.
No distrito de Viana do Castelo isto aconteceu. Tivemos oportunidade, nos últimos dias, de ver os candidatos da AD no hospital, em reunião com o conselho administração a falar num conjunto de números que, na verdade, não correspondem à realidade porque as pessoas estão cada vez mais afastadas do Serviço Nacional de Saúde, talvez por estratégia por parte da AD.
Que compromisso assumem com o SNS?
O compromisso que temos de assumir é que o SNS, a única resposta capaz de chegar a todos, tem mesmo de ser fortalecida e no nosso território há várias dimensões específicas que carecem mesmo desta resposta que eu espero, genuinamente, que seja o mais consensual possível entre os deputados que representarão o distrito.
O nosso objetivo é voltar a ter três deputados do PS em Viana, como tivemos aquando da maioria absoluta
© Flickr PS
Em termos de resultados eleitorais, quais são os vossos principais objetivos para o Alto Minho nestas legislativas?
O nosso objetivo, obviamente, é ter um maior número de deputados. Infelizmente, há um ano, perdemos, depois dos censos, um deputado na região. Éramos seis deputados, passámos para cinco. É um objetivo de todos garantir que voltamos a ter seis deputados porque é sinal de que desenvolvemos o nosso território do ponto de vista económico e social e garantimos um crescimento da população e, por essa via, também um aumento dos deputados. Mas, para este ato eleitoral, aquele que é o nosso objetivo é voltar a ter três deputados do PS em Viana, como tivemos aquando da maioria absoluta porque sabemos que, quanto mais deputados do Partido Socialista tivermos, maior a convicção de que um projeto que é para todos será implementado no país. Esse é o nosso objetivo e é isso mesmo que todos os dias partilhamos na rua quando falamos com as pessoas.
Antes de ser ministra, a Marina começou por ser assessora de Pedro Nuno Santos e depois chefe de gabinete. Trabalhou sempre muito de perto com o secretário-geral, conhece-o bem. Que características fariam de Pedro Nuno um bom primeiro-ministro para Portugal?
Tive oportunidade de conhecer, de muito perto, o trabalho de Pedro Nuno, mesmo como deputado, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e ministro das Infraestruturas e da Habitação. Tive um pequeno interregno quando fui para o Parlamento mas aí, ainda assim, consegui acompanhar o trabalho de Pedro Nuno e, depois, como sua secretária de Estado. Sou mesmo testemunha. Com a mesma convicção de que falo do nosso programa, falo das características de Pedro Nuno. O nosso secretário-geral é uma pessoa – e não digo isto como uma crítica, é uma qualidade – que sente a frustração diária de não conseguir concretizar mais rápido os objetivos a que se propõe para melhorar a vida dos portugueses. Isso é uma boa qualidade quando se está na vida política porque mais facilmente se aponta o que não se fez do que o que se fez.
É uma característica fundamental nós nunca perdermos de vista o objetivo e termos a convicção daquilo que desenhamos como uma estratégia para a população, a convicção de que estamos a trabalhar para todos e que, quanto mais rápido o fizermos, mais rápido a vida dos portugueses fica melhor. Isso traz-nos frustrações porque, às vezes, a rapidez não existe, a obra demora tempo, as reformas estruturais demoram e temos de assumir. Diria que esta é maior qualidade do Pedro Nuno. Tem muito bem definido um projeto para o país, que é para todos. Sofre as agruras de não conseguir fazer mais rápido e, muitas vezes, não conseguir respostas imediatas, mas tem essa convicção profunda de que, sempre que trabalha dia e noite para este projeto, é porque quer melhorar a vida das pessoas. Conhecendo de perto, tenho toda a convicção em dizer que esta é a maior característica de Pedro Nuno, uma pessoa constantemente inconformada por não conseguir fazer mais do que faz, sendo certo que o que faz, todos os dias, é em prol das pessoas.
Dá-me confiança saber que, no momento em que se colocam dúvidas, Pedro Nuno responde, não apenas no projeto para os portugueses, mas também neste tipo de dimensões. Portanto, essa questão da averiguação preventiva não abalou, reforçou a confiança que tenho no secretário-geral
Quando surgiu, recentemente, a questão da averiguação preventiva do Ministério Público manteve sempre a confiança em Pedro Nuno? Nunca duvidou que pudesse haver algo de errado?
Sempre. Nós temos tido a oportunidade de discutir e falarmos do líder, da condição pessoal e profissional de quem lidera um processo e digo muitas vezes, e com convicção, que há duas faces da mesma moeda. Há realmente um projeto, mas o projeto tem de ser gerido por alguém que acredite nele. Ter um projeto que é propagandista não responde a nada dos portugueses, por isso é que é muito diferente eu poder falar de um líder do PS e deste projeto, que não só responde com algo que é para todos e que tem, na sua base, propostas que são fundamentais para a vida dos portugueses, como é, ao mesmo tempo, uma pessoa que, na sua vida privada e nas questões que vão surgindo, tem total transparência na forma como se apresenta. Essa é a verdadeira distinção daquilo que é feito por Luís Montenegro. Diz que não quer responder, vai passando a informação que quer quando quer e nós temos um líder do Partido Socialista que no primeiro momento em que apareceu uma notícia – que era replicada, dado que há um ano tinha sido discutida e esclarecida – aquilo que fez foi apresentar-se aos portugueses, dar toda a informação.
Dá-nos a todos, e a mim em particular, plena convicção de que tudo o que diz para o país é precisamente aquilo que faz com a sua vida privada, que é de total transparência e compromisso com as pessoas. Partilha toda a informação com os portugueses e isso dá-me confiança. Dá-me confiança saber que, no momento em que se colocam dúvidas, Pedro Nuno responde, não apenas no projeto para os portugueses, mas também neste tipo de dimensões. Portanto, essa questão da averiguação preventiva não abalou, reforçou a confiança que tenho no secretário-geral.
O grande problema, na forma como a AD vê a política pública, é achar que o território é todo igual. Como não vê essas especificidades do território – por isso é que escolhe candidatos que nem são do território –, adota uma estratégia cega
Um dos primeiros pontos do programa do PS é garantir mais emprego e melhores salários. Como pretendem fazê-lo, sobretudo em regiões como o Alto Minho, onde nem sempre é fácil fixar os jovens?
O Alto Minho é um bom exemplo do que se deve fazer no território. Há aqui duas dimensões, uma dimensão salarial, de aumento do salário mínimo e do salário médio. Esse é um trabalho que se faz com a concertação social, mas são compromissos políticos, assumidos também pelos partidos. Essa dimensão salarial está bastante presente no nosso projeto, seja com o aumento do salário mínimo, seja com o aumento do salário médio. Esse é um dos compromissos diretos que temos no nosso programa, mas não é só esse.
Quando queremos atrair e fixar, na dimensão trabalhadora também há questões muito importantes, não apenas a salarial. A questão de reduzirmos o horário de trabalho, pugnarmos por uma maior conciliação da vida pessoal com a vida profissional e a questão também de aumentarmos o rendimento por outras vias. Todas estas dimensões concorrem para poder atrair e fixar população em todo o território e também aqui no Alto Minho. Depois há uma segunda dimensão e, olhando para o Alto Minho, temos determinados setores que podem perfeitamente ser setores a desenvolver e investir economicamente. Já tivemos uma grande discussão sobre a estratégia económica do Partido Socialista, dizendo que era agora o Estado que ia definir os setores estratégicos onde se devia investir e não se pode estar mais errado na forma como se aborda a estratégia do PS para economia.
Há uma estratégia, ao contrário do que a AD faz. Propõem a redução do imposto, uma redução transversal e cega, sem olhar verdadeiramente para o impacto que tem no território. Se eu tiver uma definição de setores estratégicos, uma política fiscal e uma política económica para o nosso território que coloque estes incentivos na capitalização de empresas, no investimento em mais trabalhadores ou no reforço do rendimento dos trabalhadores, estou a fazer uma política estratégica que não só desenvolve o território como, na verdade, promove também a atração e fixação de novos trabalhadores. Isto é aplicável a todo o território. A estratégia económica que temos visa, precisamente, responder. Não com o Estado a definir onde se deve investir, mas a responder verdadeiramente ao nosso território, que é muito diverso.
O Governo da AD não tem em conta as especificidades das diferentes regiões do país?
O grande problema, na forma como a AD vê a política pública, é achar que o território é todo igual. Como não vê essas especificidades do território – por isso é que escolhe candidatos que nem são do território –, adota uma estratégia cega, que não tem em conta as necessidades de toda a população e do tecido empresarial.
© Flickr PS
Às famílias pretendem assegurar o IVA Zero na alimentação, de forma permanente. Esta medida foi inicialmente implementada, de forma temporária, pelo Governo de António Costa. Resumindo as principais diferenças entre este vosso programa e os programas anteriormente apresentados pelo PS, que propostas destacaria?
O bom de fazermos essa comparação é que nós não divergimos dos objetivos. O Partido Socialista tem uma base e um caminho. Não vamos fazer aquilo que tivemos de fazer em 2015, que foi repor direitos ou rendimentos que foram cortados por um Governo do PSD. Quando olhamos para aquilo que foi apresentado durante oito anos pelo PS e para o nosso programa hoje, o que fazemos é avançar e reforçar em conquistas civilizacionais. O cabaz alimentar é um exemplo disso.
Tivemos medidas, em momentos concretos, que responderam às famílias portuguesas quando houve um aumento de preços e quando nos confrontámos, primeiro com uma pandemia e, depois, com uma crise de um aumento brutal da inflação. Verificámos um aumento do custo de vida, a necessidade de identificar estratégias para responder aos portugueses naquelas que são as suas necessidades mais básicas e decidimos reforçar propostas e políticas que vinham de trás de forma perene, porque achamos que temos condições económicas para isso, o que para o Partido Socialista é importante e porque achamos que impacta diretamente na vida dos portugueses. Identifico isto como uma diferença de todos os programas, não contrariando, mas reforçando o caminho que estava a ser feito. Temos a evidência de que o IVA Zero nos produtos alimentares baixou o seu valor e, por isso, consideramos fundamental que isso se faça. Do ponto de vista económico, o cenário macroeconómico do PS permite um enquadramento destas medidas e, para os portugueses, é efetivamente uma redução daqueles que são os custos de vida.
O mesmo no IVA da eletricidade, que foi um tema muito discutido ao longo dos oito anos do PS no Governo. Havia muitas propostas, dos partidos à nossa Esquerda, para reduzir o IVA da eletricidade. Na altura, o PSD até tinha uma posição um bocadinho diferente mas nós reduzimos uma parte da potência contratada para os 6% e fomos fazendo este caminho, até na oposição. Agora, aquilo que propomos, é o IVA a 6% para a eletricidade. É mais um exemplo daquilo que está neste programa e mais um exemplo daquilo que é um reforço das respostas que traz.
A energia que voltou a estar em grande destaque, depois do apagão de 28 de abril.
Tivemos oportunidade de vivenciar um dia sem eletricidade e percebemos o impacto que isto tem nos serviços essenciais e na vida das pessoas. Para nós é fundamental, também neste setor, ter esta intervenção, fortalecendo e reforçando medidas que vinham de trás e de forma estrutural. No abono de família é exatamente a mesma dimensão. Não cortamos, não estagnamos, fomos aumentando ao longo do tempo. Aquilo que fazemos é, mais uma vez, aumentar em 50% o abono de família para as crianças entre os três e os seis.
Outro exemplo que conheço bem é na Habitação. Tivemos, durante um ano, muita propaganda e pouco compromisso para lá daqueles que eram os compromissos que vinham de trás. Aquilo que o PS apresenta no seu programa é na sequência do que fez ao longo de oito anos. Definimos uma linha de financiamento que a cada ano, através dos dividendos da Caixa, respondesse às necessidades do território. Também aqui não há um contrariar do projeto dos últimos oito anos do PS, há um reforço daquilo que foi feito.
Há, então, apenas um ajuste de políticas?
Não mudamos de opinião em função de perceções ou de propaganda. Olhamos para a realidade e ajustamos políticas, como foi o caso da imigração, em que houve um ajustamento da nossa política. Não por contrariarmos o que foi feito, mas por olharmos para a forma como é implementada e percebermos que precisa de ser ajustada.
Nunca dissemos que íamos resolver o problema da Habitação em 90 dias, como o PSD. Sempre dissemos que era um processo complexo e que tem duas velocidades
No caso concreto da Habitação, enquanto ministra anunciou um pacote de arrendamento que trazia para o mercado casas devolutas. Foi algo que o PS não chegou a conseguir concretizar. Pretendem fazê-lo agora, caso regressem ao Governo, com o Programa REVIVE Habitação?
Nunca dissemos que íamos resolver o problema da Habitação em 90 dias, como o PSD. Sempre dissemos que era um processo complexo e que tem duas velocidades: uma velocidade a curto prazo, mais assente nos apoios e num conjunto de medidas que foram muito discutidas, e, depois, uma estratégia a médio prazo, que é fundamental no nosso território para reforçar as respostas que sejam compatíveis com os rendimentos das famílias e a dimensão primordial era a habitação pública. Tivemos o líder do PSD, Luís Montenegro, na Figueira da Foz com o presidente da câmara (Pedro Santana Lopes) a visitar uns imóveis que relembram o que fizemos e a estratégia que se definiu. Foram ver os imóveis da Defesa, que estavam, há décadas, abandonados. É uma avaliação que temos de fazer porque o Partido Socialista esteve oito anos no Governo, mas estes imóveis passaram a estar em condições de dar resposta habitacional depois da assinatura de um auto em que tive a oportunidade de estar presente e de ouvir o presidente da Câmara da Figueira da Foz dizer que ainda bem que o PS colocou isto como prioridade. Estou a dar este exemplo, mas podia dar variadíssimos do que já foi feito nesta mobilização do património.
Certamente o primeiro-ministro não consegue visitar nenhum projeto deste Governo porque não há. Há, e ainda bem, a continuidade de projetos que vinham de trás e não foram parados. Com seriedade e com rigor, admitimos que não ficou tudo feito, identificado e a andar. Há um trabalho que ainda está por fazer de identificar todo o património devoluto que tem aptidão habitacional, que responde em zonas onde precisamos de habitação e é este cruzamento que nos permite, de forma faseada, responder com a reabilitação da construção neste património para poder colocá-lo ao serviço das pessoas. Não consigo, de forma séria, dizer que falhou essa política, mas posso, de forma séria, dizer que ainda há muito trabalho por fazer. Não, não ficou tudo feito, nem sequer tudo identificado, mas a forma como se traçou o caminho está mais do que definida.
A questão da celeridade é fundamental, de tornar menos complexa e burocrática esta gestão deste património que nós identificamos, que sabemos estar devoluto, que tem a aptidão habitacional e que, muitas vezes, nem é só o Governo que quer reabilitar para construir e colocar ao serviço da população, são também os municípios. Este exemplo da Figueira da Foz é mesmo paradigmático, com uma câmara de cor diferente do Governo da altura, mas que trabalhou em conjunto e salientaram esse trabalho do PS como um bom exemplo da estratégia que se fez, que não está acabada e tem de se continuar a fazer.
Se o PS voltar ao Governo, aceitaria volta a ser ministra? E aceitaria a pasta da Habitação para continuar este trabalho que ficou por terminar ou escolheria outra?
Não vou fazer cenários hipotéticos de futuro. Agora, a mensagem principal que temos de dar aos portugueses é que estou neste projeto como deputada. Obviamente seria errado dizer que fecho portas, mas neste momento tenho uma preocupação e prioridade: partilhar e dar a conhecer o nosso projeto até 18 de maio, com a convicção de que é o melhor para a população. O único cenário em que estou determinada a trabalhar é o da vitória do Partido Socialista. Teremos muito tempo, depois de 18 de maio, para falar de cenário ou de proposta.
Até lá, o que queremos é que as pessoas percebam que o projeto do PS é o melhor para o país e para responder a todos os portugueses. É só nisso que estarei concentrada para termos a certeza de que o nosso país melhora a partir de 18 de maio.
Nós respondemos a todos. Normalmente a Direita, e a AD em particular, responde só a parte da população, mas há áreas onde podemos encontrar esses consensos
Em caso de vitória da AD e de voltarmos a ter Luís Montenegro como primeiro-ministro, considera que há condições para consensos entre os dois partidos?
Isso não acontecerá, a vitória será do Partido Socialista. Essa é a minha convicção máxima que partilharei até ao dia 18 de maio, portanto esse cenário não se coloca, mas temos áreas onde é importante trabalhar em conjunto. Ao longo deste ano a AD avançou, nomeadamente na valorização de carreiras. O PS sempre disse que estaria do lado da solução nesta dimensão de valorização das carreiras e fizemo-lo. Temos áreas onde temos divergências profundas porque temos projetos diferentes sobre a quem é que respondemos.
Nós respondemos a todos. Normalmente a Direita, e a AD em particular, responde só a parte da população, mas há áreas onde podemos encontrar esses consensos. Com seriedade, devemos dizer isso aos portugueses. Nas áreas em que dizemos o mesmo temos de assumir esse trabalho e gerar os consensos possíveis, mas há áreas em que isso não é possível tendo em conta as divergências no projeto que se apresenta. Ainda assim, há muitas áreas onde isso pode acontecer, a Justiça é uma delas, por exemplo.
Que mensagem gostaria de deixar aos portugueses que ainda estão indecisos?
No dia 18 de maio estamos mesmo a escolher um projeto diferente da AD. A mensagem que temos de passar aos portugueses é que o Partido Socialista apresenta uma resposta para todos, que não olha à condição e situação de cada pessoa, mas valoriza aquilo que de melhor tem o nosso território, que sabe apostar na valorização do trabalhador com medidas do ponto de vista salarial, da conciliação da vida profissional com a pessoal e de valorização do nosso tecido económico. Um programa que responde também nos serviços públicos, capaz de gerar resposta sabendo o que ainda precisa de ser feito e que é preciso responder à classe média na habitação, que é fundamental e com uma escola, desde o início da vida ao ensino superior, que responda a todos, em que o preço ou a resposta não tenha impacto na escolha, que deve ser feita pelas famílias, de acesso à educação. Um Serviço Nacional de Saúde que responda a todos em todo o território e que reduz o custo de vida com medidas diretas, como a questão do preço dos bens essenciais, seja a eletricidade ou bens essenciais de consumo. É um projeto que se diferencia do que é apresentado à Direita.
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