Medicina estética: “Hoje, é possível reverter praticamente todas as lesões e sequelas de uma gravidez e pós-parto” - Atualidade

Apesar da imagem frequentemente romantizada da maternidade, a gravidez e o pós-parto nem sempre são períodos fáceis ou isentos de desafios — sobretudo no que toca à saúde física e emocional da mulher. A realidade é que o corpo feminino passa por profundas transformações durante e após a gravidez, com impacto direto no bem-estar e qualidade de vida das mães.

Foi precisamente com o objetivo de dar visibilidade a esta realidade que a obstetra Mónica Ferreira Gomes e o cirurgião plástico Jesús Olivas Menayo uniram esforços para criar o International Pós Maternity Institute, sob a alçada da MS Medical Institutes. A organização tem como missão investigar, formar e tratar, de forma integral, as sequelas do pós-parto, que afetam milhões de mulheres em todo o mundo.

Em conjunto, os dois especialistas lançaram recentemente um livro profissional dedicado ao tema, onde defendem uma abordagem multidisciplinar no tratamento das alterações pós-parto. “Não se trata apenas de estética, mas de saúde no seu sentido mais amplo”, afirmam. As transformações mais comuns incluem alterações na pele, no abdómen, no peito, nos genitais, no contorno corporal, bem como problemas musculares, especialmente ao nível dos abdominais e do pavimento pélvico.

“Cada mulher é única, e a forma como vive e recupera do pós-parto também o é”, sublinha Mónica Ferreira Gomes. O reconhecimento desta diversidade é essencial para garantir que todas as mães tenham acesso ao apoio que realmente precisam — físico, emocional e psicológico.

Numa sociedade onde o ideal da “mãe perfeita” ainda é fortemente promovido, falar abertamente sobre os desafios reais do pós-parto é um passo fundamental para uma maternidade mais informada, saudável e empática.

Um elevado número de mulheres sofre alterações físicas significativas após o parto, das modificações cutâneas até às da estrutura muscular e órgãos genitais. Ainda assim, muitas destas alterações permanecem subvalorizadas. Que papel deve ter a medicina atual na normalização e tratamento destas alterações?

Primeiro é muito importante perceber e desmistificar que as alterações físicas vão muito além da aparência. Existem sequelas físicas pós-parto que podem ser visíveis ou não, e emocionais, que não são facilmente percetíveis, com a agravante que muitas mulheres tentam esconder essa condição para evitarem julgamentos ou a pressão social.

Para a normalização destas alterações é necessário que a sociedade acompanhe a evolução da medicina e que passe a considerar estas alterações físicas e as lesões como uma situação que merece intervenção médica. Ou seja, o tratamento de todas estas lesões identificadas como resultantes da gravidez e do parto devem passar a estar contemplados no plano nacional de saúde, porque são efetivamente lesões decorrentes de uma situação natural da vida, que merece toda a nossa consideração e atenção.

Em relação à medicina, esta tem um papel fundamental porque tem evoluído imenso e hoje em dia é possível reverter praticamente todas as lesões e sequelas de uma gravidez e pós-parto, desde alterações de pele, peito, genitais, contorno corporal, e especialmente nos músculos abdominais e do pavimento pélvico.

Para normalizar estas alterações, é fundamental que a sociedade perceba o impacto físico e emocional que têm na vida das mulheres e que estes temas sejam abordados de forma natural, quer proativamente pelos médicos para com as suas pacientes, quer pelos pacientes para com os médicos, assim como por toda a sociedade. A evidência científica demonstra que a percentagem de mulheres que sofre uma ou mais do que uma sequela é elevadíssima, pelo que é urgente normalizar e tratar todas estas situações.

 A diástase abdominal, caracterizada pela separação dos músculos retos do abdómen, afeta cerca de 60% das mulheres no pós-parto e pode comprometer a mobilidade e a qualidade de vida. Quais são hoje os critérios clínicos e funcionais para diferenciar casos que requerem reabilitação física de situações que exigem cirurgia reconstrutiva?

Embora muitas vezes seja transitória, em alguns casos pode persistir e causar dor lombar, alterações posturais, disfunções do pavimento pélvico e impacto na autoestima. A decisão entre reabilitação física e cirurgia reconstrutiva depende de uma avaliação criteriosa baseada em critérios clínicos e funcionais.

Entre os critérios para a reabilitação física destacaríamos os seguintes: diástase menor que 3 cm entre os músculos retos abdominais; boa resposta à contração muscular voluntária, especialmente do transverso do abdómen; ausência de hérnias ou outras complicações associadas; sintomas leves ou moderados que não limitam severamente as atividades da vida diária; motivação e adesão à fisioterapia e ao treino funcional supervisionado.

É urgente que o plano nacional de saúde reconheça estas lesões como consequência direta da gravidez e do parto, e que lhes dê resposta médica adequada.

Já no caso dos critérios para a cirurgia reconstrutiva há a considerar a diástase severa (geralmente > 5 cm), persistente após seis a 12 meses de reabilitação; presença de hérnias associadas, como umbilical ou epigástrica; fraqueza significativa da parede abdominal, com impacto na postura, equilíbrio e mobilidade; sintomas refratários à fisioterapia, como dor crónica ou instabilidade funcional; comprometimento importante da qualidade de vida ou desejo estético relevante, após esgotadas as abordagens conservadoras.

A escolha do tratamento deve ser individualizada, idealmente com o acompanhamento de uma equipa multidisciplinar que inclua fisioterapeutas especializados em saúde pélvica, médicos fisiatras e, se necessário, cirurgiões plásticos ou gerais. O mais importante é garantir que cada mãe tenha acesso ao apoio adequado para recuperar a funcionalidade, a confiança e o bem-estar após o parto.

Mónica ferreira Obstetra Mónica Gomes Ferreira.

Nos anos mais recentes, registou-se um aumento substancial nas cirurgias plásticas pós-parto, como a abdominoplastia, mastopexia ou vaginoplastia. Como garantir que esta resposta médica responde a necessidades reais e não apenas a pressões estéticas ou culturais?

Através da evidência científica. As alterações do corpo e mente são uma realidade que afeta milhões de mulheres em todo o mundo, e podem variar entre: alterações de pele, com 50 a 90% das mulheres a ficarem com estrias e cerca de 50% com melasma, distenção dos músculos abdominais, com aproximadamente 60% a desenvolverem diástase, alterações genitais e no pavimento pélvico, com 50% a registarem sintomas de incontinência urinária, e praticamente 100% com alterações no peito e contorno corporal.

Mas, vamos a dois exemplos muito concretos, o abdómen e as alterações genitais/pavimento pélvico. No caso do abdómen, esta é uma das zonas mais afetadas durante a gravidez e a distenção abdominal pode levar à condição aqui já referida conhecida como diástase, que surge quando os músculos abdominais se separam ao longo da linha média. Esta condição afeta cerca de 60% das mulheres, segundo um estudo do Brithish Journal of Sports Medicine, e está longe de ser puramente estética, como também aqui analisámos.

No caso do pavimento pélvico, este tem um papel fundamental durante a gravidez e o parto, ao suportar o peso do útero e dos órgãos pélvicos. Durante o parto vaginal, o pavimento pélvico pode sofrer complicações, levando a problemas como a incontinência urinária. As evidências científicas demonstram que 50% das mulheres sofre algum nível de incontinência urinária pós-parto e uma percentagem significativa também relata diminuição da satisfação sexual devido ao enfraquecimento dos músculos vaginais. Duas situações que só surgem devido à gravidez e parto, e que têm tratamento, pelo que este devem ser encaradas como uma consequência natural do parto também. Os tratamentos podem ser não cirúrgicos e cirúrgicos. Os exercícios de Kegel, que fortalecem os músculos do pavimento pélvico são a primeira opção de tratamento e são eficazes em casos de incontinência leve. Para os casos mais graves existem intervenções cirúrgicas, que revertem a situação, como a vaginoplastia.

procedimentos estéticos Olivas Menayo, especialista em cirurgia plástica reparadora e estética, na MS Medical Institutes. créditos: Divulgação

Alterações como estrias, hiperpigmentação ou flacidez são resultado direto de fatores hormonais e do estiramento cutâneo. A evidência científica atual sustenta intervenções eficazes nestas áreas ou estas permanecem desafios terapêuticos em aberto?

É muito comum ver-se, sobretudo no verão, quando as mulheres andam com menos roupa e usam biquínis na praia, o resultado das modificações na pele nos pós gravidez. Não sendo uma alteração exclusiva da maternidade, as estrias são um dos problemas mais comuns e afetam cerca de 50 a 90% das mulheres grávidas e resultam da rutura das fibras de colagénio e elastina na derme.

Outra mudança habitual é a hiperpigmentação, como o melasma, que surge em cerca de 50% das mulheres. Esta deve-se ao aumento da melanina induzida por causa das hormonas da gravidez.

As alterações do contorno corporal, visíveis em praticamente 100% das mulheres, devem-se à acumulação de gordura em zonas específicas como o abdómen, ancas e coxas. E, nestes casos, a lipoaspiração é o tratamento cirúrgico mais eficaz para eliminar a gordura localizada e melhorar o contorno corporal.

As sequelas do pós-parto não são apenas visíveis ou estéticas — muitas mulheres escondem o seu sofrimento físico e emocional por medo do julgamento social.

O peito é uma das zonas mais afetadas pela maternidade, com perda de volume, alterações na forma e elasticidade. Tendo em conta o impacto funcional e psicológico, como se define hoje o melhor percurso terapêutico entre soluções não invasivas e cirurgias como a mastopexia ou mamoplastia de aumento?

 Cada caso é um caso, pelo que deve ser feito um diagnóstico personalizado e informado, antes de se avançar com qualquer tratamento. Isto porque todas as intervenções têm riscos, e o objetivo é tratar uma situação e não agravar a mesma.

No caso do peito, pode optar-se por tratamentos não invasivos, como o uso de injeções de ácido hialurônico para restaurar o volume perdido, ou cirurgias como a mastopexia (levantamento do peito) e a mamoplastia de aumento, que podem realizar-se juntas ou em separado. Contudo, o mais importante é que seja sempre um tratamento consciente e ajustado às necessidades reais. É fundamental discutir todos os pormenores com o respetivo médico, para se estar ciente não só dos benefícios, mas também dos riscos.

O contorno corporal pode alterar-se drasticamente após a gravidez devido à acumulação de gordura em áreas específicas. Qual é o lugar da lipoaspiração neste contexto? É uma intervenção com grande exigência no pós-operatório?

A lipoaspiração é muito eficaz para eliminar a gordura localizada e melhorar o contorno corporal. E, segundo um estudo do Journal of Plastic, Reconstructive & Aesthetic Surgery, pode melhorar significativamente a autoconfiança das pacientes. Contudo é fundamental que as expectativas sejam realistas, e que se compreenda que não se trata de um tratamento milagroso para a obesidade.

A lipoaspiração no pós-parto exige cuidados rigorosos no pós-operatório. É necessário usar cintas compressivas por várias semanas, realizar drenagem linfática para reduzir o inchaço e evitar esforço físico — o que pode ser desafiante para mães recentes. A recuperação completa pode levar meses, e os resultados finais demoram a aparecer. Além disso, o procedimento só deve ser considerado após o corpo estabilizar, geralmente seis a 12 meses após o parto e o fim da amamentação. É essencial que a decisão seja bem informada e não motivada por pressões estéticas imediatas.

Procedimentos como a vaginoplastia ou a correção de cicatrizes da episiotomia estão a ganhar destaque como soluções para desconfortos físicos e emocionais. De que forma estas intervenções podem melhorar a qualidade de vida e que critérios clínicos e éticos orientam a sua indicação?

Estudos recentes publicados no Journal of Sexual Medicine indicam que a vaginoplastia oferece resultados muito satisfatórios, com melhoras significativas na função sexual e autoestima da mulher. Trata-se de um tratamento cirúrgico criado para devolver a tensão dos músculos vaginais que ficaram debilitado durante o parto, e ao fazer isso, reforça a estrutura do canal vaginal, acabando por aumentar também a satisfação sexual.

A vaginoplastia é muito útil também em mulheres que apresentam uma maior fluidez vaginal, e nas quais os exercícios de Kegel não surtem efeito, ao reforçar os músculos e tecidos da parede vaginal, reduzindo o diâmetro do canal vaginal devolvendo a firmeza ao mesmo. No caso de mulheres que ficam com incontinência urinária, este tratamento vem devolver a segurança e a autoconfiança que precisam porque, existem casos, em que apenas pegar no bebé representa um esforço grande, com consequentes perdas de urina.

No caso da episiotomia, ou como é conhecido, o corte cirúrgico realizado no períneo durante o parto para facilitar a saída do bebé, este ato pode resultar em cicatrizes que que causam dor crónica, dispareunia (dores durante as relações sexuais) ou problemas estéticos. Situações que são resultado direto do parto e que não devem representar uma sequela permanente. Se a medicina atual oferece um tratamento, então este deve ser disponibilizado a todas as mulheres que sofrem desta condição. Hoje em dia, com recurso a cirurgias modernas pode diminuir-se a tensão na zona melhorando a cicatrização e a qualidade de vida da mulher.

A indicação de uma vaginoplastia — seja com finalidade funcional, reparadora ou estética — deve ser cuidadosamente avaliada à luz de critérios clínicos e éticos, assegurando que a decisão respeite a saúde, o bem-estar e a autonomia da mulher.

Hoje, a medicina permite reverter quase todas as sequelas do pós-parto, mas é fundamental garantir um acompanhamento personalizado e multidisciplinar.

O International Pós Maternity Institute by MS Medical Institutes afirma-se como pioneiro na abordagem integrada ao pós-parto. Que inovações estão a ser desenvolvidas no campo da investigação e tratamento, e como se mede o seu impacto real na vida das mulheres?

O International Pós Maternity Institute by MS Medical Institutes posiciona-se na vanguarda da abordagem integrada ao pós-parto, unindo medicina, fisioterapia, nutrição, psicologia e estética numa resposta personalizada às necessidades da mulher no período pós-natal.

As inovações em desenvolvimento incluem protocolos clínicos integrados, com planos individualizados que cruzam dados de avaliação funcional, hormonal e emocional; a tecnologia aplicada à recuperação pós-parto, como dispositivos de biofeedback para treino do pavimento pélvico, monitorização digital da diástase abdominal e programas de tele-reabilitação. Também salientaríamos a investigação em regeneração tecidular, com recurso a terapias como radiofrequência, laser, electroestimulação muscular intravaginal exossomas e PRP (plasma rico em plaquetas); a avaliação neuropsicológica precoce, integrando saúde mental e bem-estar emocional na recuperação física.

O impacto real mede-se por meio de indicadores clínicos e de qualidade de vida, como a redução de sintomas (ex.: incontinência, dor, fadiga); a melhoria da função corporal (força, mobilidade, composição corporal); o retorno à atividade sexual e física sem limitações; avaliações de bem-estar emocional e autoestima; a satisfação da paciente com o plano de cuidados e resultados alcançados.

Ao apostar numa abordagem centrada na mulher, baseada em evidência e com visão interdisciplinar, o Instituto contribui para redefinir o padrão de cuidados no pós-parto, promovendo não apenas recuperação, mas também empoderamento feminino.

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