SegundoA associação afirmou em comunicado ter enviado na quarta-feira uma carta aos deputados sublinhando que o decreto, que será discutido no parlamento na próxima sexta-feira, “deve ser revogado”.
“O Decreto 117/2024 é uma fraude vergonhosa. Apelamos à Assembleia da República que nos liberte dele e não remeta para a história este crime legislativo”, lê-se na carta.
A Frente Civil entende que “a entrada em vigor desta legislação provocará alterações bruscas no plano diretor municipal, contrárias à coerência, previsibilidade e segurança jurídica da ordem territorial, pondo em causa um dos princípios básicos da democracia local”.
A associação considera que os poderes para alterar o uso do solo “são ilegais porque prejudicam gravemente o planeamento territorial” e constituem uma “base previsível para a corrupção porque incentivam a promiscuidade entre autarcas, partidos políticos e especuladores imobiliários”.
Para a Frente Cívica, este mecanismo terá o efeito imediato de “um aumento brutal dos preços dos terrenos”, tornando mais difícil a resolução do problema habitacional de Portugal.
“Estas operações urbanas vão aumentar o valor dos terrenos de seis a sete vezes. Lucros desta envergadura (600% ou mais) só estão disponíveis no tráfico de droga de alto nível e, agora, no planeamento urbano”, alerta a Frente Cívica.
A associação acredita que “em ano de eleições autárquicas, os ‘patos selvagens’ imobiliários vão certamente faturar milhões em operações administrativas de avaliação de terrenos antes mesmo de construir uma casa nos terrenos requalificados”.
“É inevitável que uma pequena parte dos seus lucros financie os seus co-conspiradores, presidentes de câmara e partidos políticos que concorrem às eleições deste ano”, afirmou a associação.
A Frente Cívica acredita que esta legislação, se promulgada, também permitiria a legalização de algumas operações ilegais de planeamento urbano que podem ter sido autorizadas nos últimos anos.
“Desta forma, o Decreto 117/2024 não só incentivará novos ataques ao território, mas também proporcionará amnistia aos crimes já cometidos”, refere a carta.
O governo alterou o regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial para permitir a construção em terrenos anteriormente proibidos, incluindo a Reserva Agrícola Nacional (RAN) e a Reserva Ecológica Nacional (REN), demonstrando a sua intenção de aumentar a oferta de terrenos para construção de habitação e garantindo proteção de áreas protegidas.
No início deste mês, o subsecretário da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, disse que se tratava de uma “mudança estrutural” que visa “baixar os preços da habitação”.
O ministro lembrou que “Portugal vive uma grave crise habitacional”, lembrando que “para aumentar a construção de novas habitações para a classe média, a iniciativa do governo permitirá que as câmaras municipais e os parlamentos autorizem a construção de habitações nos terrenos onde a moradia está localizada. Ainda não está prevista”.
“A reclassificação destes solos só será possível se 70 por cento das casas a construir forem vendidas a preços moderados”, afirmou.
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