Juan Villoro: “Uma solução importante para preservar o humano é ler” | Entrevista

O escritor e jornalista mexicano Juan Villoro acredita que a tecnologia nos empurrou para uma realidade diluída, distorcida, distante. “É precisamente por vivermos na era da distorção que a verdade se tornou cada vez mais revolucionária”, diz, numa conversa com o P3 em Lisboa, onde esteve a discursar no festival 5L.

O seu novo livro, Não Sou um Robô, chegou no mês passado a Portugal pela editora Zigurate e faz uma reflexão sobre as mudanças que a tecnologia está a impor naquilo que define o ser humano. É preciso repensarmos a nossa relação com ela e, sobretudo, com a inteligência artificial. “A tecnologia também é uma questão de dose: é muito útil quando é a nossa ferramenta, é perniciosa quando nos tornamos seus escravos”, comenta o autor.

O livro é ainda um ensaio sobre o papel que a leitura pode ter neste turbilhão digital: a leitura, diz, “é uma forma de paciência”, uma “forma de meditação”. “O livro desafia-nos e revela-nos coisas sobre nós próprios que desconhecíamos” – e esse confronto connosco mesmos é importante quando os algoritmos operam por semelhança, mostrando-nos aquilo com que já concordamos.

Além disso, ajuda-nos a distinguir os diferentes ritmos da realidade e ensina-nos a seleccionar, sem que nos afoguemos no excesso de informação. “O ser humano não abdicou necessariamente das formas de lentidão, mas creio que a leitura nos dá algo muito importante, que é a administração do tempo a diferentes velocidades”, refere Juan Villoro.

Considera que há uma dissolução progressiva da realidade? Em que sentido é que isto acontece?
Hoje em dia levamos uma existência espectral nos ecrãs. Representamo-nos a nós mesmos com um alias, um pseudónimo, em contas de Twitter ou com um avatar num jogo, ou temos de nos identificar com uma password ou com um número de identificação pessoal.

Isto acontece de tal maneira que a nossa vida ocorre em dois planos, mas um deles é um plano virtual. A substância do presente escapa-nos muitas vezes e estamos a pensar noutra realidade. Isto aumentou bastante com a realidade virtual porque podemos passar sete ou oito horas a consultar ecrãs, quase sem nos darmos conta. Onde fica o mundo dos factos? Onde fica a realidade?

De alguma forma, o nosso contacto com o mundo tridimensional desvaneceu-se. Há miúdos, sobretudo jovens, que se desentendem da realidade porque já só conseguem reagir aos estímulos do ecrã. Estamos perante esta possibilidade de despegar da realidade e de considerar que ela não é tão importante como o que acontece nos ecrãs, que não é outra coisa que não uma representação, um simulacro.

Como a caverna de Platão?
Tem muitas parecenças com o tema da caverna de Platão porque vemos que os escravos que estão num mundo escuro não vêem a realidade em si mesma, mas apenas as suas sombras. E, mais, as sombras chegam distorcidas. Então é uma representação confusa do real.

Isto também sucede no mundo digital, por exemplo, com as fake news. Há sites em que se assegura que a Terra é plana, que o ser humano não chegou à Lua, que o Holocausto nunca existiu, que as vacinas fazem mal, etc. E há centenas de milhares de pessoas que podem acreditar nisto. Estamos também perante uma distorção programada da realidade e creio que isto faz com que o jornalismo e a cultura sejam cada vez mais importantes para saber de que lado está a verdade.

Crê que o isolamento pode contribuir para um aumento desses casos de teorias da conspiração, desinformação, misoginia? Pode haver um aumento destes casos mais extremos?
A mim, enquanto escritor, o que mais me interessa neste momento é a mudança de comportamentos, a forma como os nossos hábitos se alteram. Como é que a relação entre homens e mulheres muda e como é que a relação política com as eleições muda. A relação entre pais e filhos que se altera com os meios digitais... E, de facto, o isolamento que se cria nas redes pode muitas vezes levar a comportamentos extremos, por várias razões.

Em primeiro lugar, porque se perde a empatia, o contacto com o outro, que é muito necessário para a comunidade, que exige uma transmissão de valores partilhados.

Este é um problema. Por outro lado, as redes sociais também incentivam um comportamento binário: ou estás a favor, ou estás contra; e no meio parece não haver nada. Dás like ou juntas-te a um linchamento de ódio contra uma pessoa? A dúvida, a ambiguidade, a contradição, a capacidade de rectificação que fazem parte da inteligência humana deixam de estar tanto em jogo, o que favorece mais uma vez as reacções extremas.

Por exemplo: na política, o apoio a candidatos populistas que propõem acabar com toda a realidade e que capitalizam o ódio e o rancor para a sua causa. Este é um fenómeno que estamos a viver e sobre o qual temos de reflectir.

Diz no livro que a nossa espécie está a perder faculdades, assumidas pelas máquinas. Isso é necessariamente uma coisa má? Que faculdades estamos a perder?
Como vemos pelo estado da espécie humana, provavelmente mereceria ser substituída por outra espécie. Temos poucas razões para estarmos orgulhosos de nós próprios: com o aquecimento global, o genocídio em Gaza, a guerra na Ucrânia, as ditaduras que ainda existem no mundo, a discriminação racial e de género... É uma situação muito grave esta do ser humano. E, nesse sentido, possivelmente devíamos resignar-nos a desaparecer. Mas acredito que a resistência não consiste apenas em preservar o humano, mas em redefini-lo, em reflectir verdadeiramente sobre o que constitui um ser humano digno desse nome.

Hoje entramos num website em que nos oferecem a possibilidade de assinalar uma caixa onde dizemos: "Não sou um robô". O paradoxo é que a entidade a quem dizemos que não somos um robô é uma máquina, então é um robô que nos autentifica como humano. Pertencemos à primeira geração da história que tem de provar que continua a ser humana, mas este gesto de assinalar uma caixa parece-me insuficiente. Temos de redefinir o humano e pensar sobre o que vale mesmo a pena para nos distinguirmos das máquinas, porque em muitos aspectos já somos substituíveis.

Há numerosos postos de trabalho que estão a ser ocupados com sucesso pela inteligência artificial e isto está a aumentar a um ritmo vertiginoso. Estima-se que 80% dos empregos humanos poderão ser feitos por máquinas. Dou um exemplo do meu trabalho, porque eu também sou jornalista: o jornal mais importante da minha língua, não vou dizer qual, tem 400 empregados. Um estudo recente afirma que o mesmo jornal pode fazer-se com 120 empregados, mais a inteligência artificial. A substituição está à vista. Está a ser feita por máquinas a alta velocidade e sem problemas pessoais.

Mais baratas?
Sim. Temos de nos organizar politicamente para impedir que a inteligência artificial assuma o controlo, porque não existe nenhuma legislação internacional que nos proteja. Os nossos dados pessoais circulam livremente em todo o mundo. E nada trava os oligarcas que estão a enriquecer à custa dos nossos dados: tornámo-nos a principal mercadoria do planeta. Embora isto aparentemente seja uma vantagem para nós, não é muito claro. Muitas pessoas pensam que ter um telemóvel é exclusivamente uma vantagem — e, de facto, é útil para muitas coisas —, mas também nos rouba informação e nos afasta porque, sem nos apercebermos, dedicamo-nos a consultar o telemóvel quando poderíamos estar a fazer coisas que nos são muito mais úteis.

Voltando um bocadinho atrás, o que significa então ser um ser humano digno?
Esta é a grande questão que todos temos de definir em conjunto. Não poderia ser eu a pessoa a defini-lo, mas penso que a cultura ajudou-nos a compreender que o ser humano se dedica não apenas ao que existe, mas ao que é possível. A capacidade de inovação e invenção faz parte do ser humano. Assim como a ligação entre a emoção e o pensamento, a capacidade de sentir com empatia para depois tomar uma decisão. Esta capacidade de sentir é o que faz de nós humanos e o que nos distingue das máquinas. Mas é uma capacidade que inclui, por exemplo, o erro, a dúvida, o fracasso, a dor, o sofrimento. Todas estas reservas de emoções são as que nós, através da razão e da arte, reconvertemos em algo valioso.

Esta capacidade de aplicar um raciocínio complexo para traduzir emoções positivas ou negativas em algo que faça sentido e tenha beleza é o que nos constituiu como espécie. O importante é pensar na possibilidade de preservar isso, na possibilidade de pertencer a uma espécie onde ainda possa existir um Cervantes ou um Pessoa do futuro.

Que não pode ser feito da mesma forma pelas máquinas...
Não pode ser feito por máquinas no sentido em que as máquinas são feitas para trabalhar com o pré-existente, são alimentadas com dados, processam-nos lindamente.

Assim, uma máquina poderia repetir os poemas de Pessoa, poderia criar um novo heterónimo de Pessoa, mas não podia criar um novo Pessoa. Por agora. Não sabemos até onde é que isto vai chegar, porque o processo de algoritmos tem um elemento de automatismo em que, alimentando-se a si próprio, adquire novas competências, uma das quais pode ser a invenção. A tal ponto, talvez, que o processador não saberá se é humano ou não, como no filme Blade Runner.

Seria grave...
Seria muito grave, porque isso dotaria as máquinas de uma condição essencial da espécie humana, que é a dúvida existencial, não é verdade? Outra enorme capacidade humana é o auto-engano. Perante a possibilidade de não sermos capazes de fazer algo, a impossibilidade faz-nos acreditar que somos melhores. As máquinas não se enganam a si próprias, nós é que nos enganamos. Temos de pôr em prática isto que é tão importante para a nossa espécie e, se não, mereceremos ser substituídos.

Também diz que, hoje, o algoritmo é mais importante do que qualquer filósofo. Em que sentido?
Hoje em dia, sim, porque um algoritmo convence-nos de coisas que já estão em nós. O algoritmo funciona por semelhança. O algoritmo conhece-nos bem e o que faz é formular uma tentação que já tens de forma inconsciente, mas que não expressaste. É muito atractivo porque tem uma influência que já se baseia naquilo que desejas. É o cumprimento de um desejo adicional, organizado com base numa série de desejos.

Por outro lado, um filósofo intriga-nos, propõe-nos uma ideia em que nunca pensámos antes e faz-nos reflectir. Não é assim tão fácil que o admitas logo. Em vez disso, o algoritmo já está dentro do teu sistema mental e é muito mais fácil operar por semelhança do que operar por diferença. Porque a cultura tem a ver com a pluralidade de ideias. Quando se abre um romance, descobre-se de repente que se gosta de coisas que não se sabia que se podia gostar. São novos prazeres, porque são situações que ignorávamos de um romancista, provavelmente do Japão, da Rússia ou do México.

Assim, esta surpresa do conhecimento tem a ver com a multiplicidade, enquanto o algoritmo tem a ver com a semelhança, e isso pode levar-nos a uma ditadura do igual, a uma ditadura dos semelhantes. O algoritmo é muito mais eficaz. E é por isso que temos de nos revoltar contra o algoritmo.

É importante esse confronto com o que não sabemos, com o desconhecido?
Claro. Quando alguém lê um livro, vai encontrar nele coisas diferentes das que eu vou encontrar. Cada leitor completa o livro. O livro desafia-nos e revela-nos coisas sobre nós próprios que desconhecíamos. O mais importante de um livro não é o que diz do autor, mas o que diz sobre o leitor, porque é o leitor que o completa e... E essa é a parte viva da cultura, não é?

O meu livro, que está aí fechado, não é cultura, só se torna cultura quando a activamos e lemos. Portanto, esta dinâmica também faz parte do que é humano. E a mim parece-me que isto passa pela leitura. Há milénios que somos inseparáveis da escrita e da leitura, e creio que esta é uma das ferramentas de que dispomos para não sermos derrotados pela automatização em geral.

Ia precisamente perguntar como é que a leitura pode ajudar a romper com esta correria das nossas vidas?
Apesar de tudo o que eu disse, que foi um bocado fatalista, eu penso que este livro aponta as ameaças, mas ao mesmo tempo tenta pensar: será que, através da cultura, da leitura e dos livros, podemos compreender melhor esta realidade e lidar com ela? Se tivermos um mapa alargado da cultura, podemos fazer uma melhor triagem dos muitos estímulos que recebemos da Internet. Porque a Internet é um mundo imenso. Ninguém pode ler tudo o que está na Internet. Tal como ninguém pode ler uma biblioteca inteira, temos de discernir, de seleccionar.

É por isso que o Umberto Eco diz que ser culto serve para ler menos. É um paradoxo, porque se nos educarmos detectamos imediatamente o que funciona para nós, o que não funciona para nós, que estilo de pensamento estamos à procura. É este o tipo de relação com a cultura que podemos defender.

Diria que a leitura é especialmente importante para os jovens?
Há estudos muito importantes sobre a leitura nas crianças, em que se divide uma sala de aula e metade lê em papel e outra metade lê no ecrã. Eu não defendo só a leitura, mas a leitura em papel, porque cognitivamente o cérebro está treinado para trabalhar na terceira dimensão. Durante a pandemia vimos que a Terra voltou a ficar plana com os ecrãs e, por exemplo, a minha filha e o meu filho foram para a universidade, tiveram dois anos de universidade... O meu filho estudou Medicina, por isso teve de assistir a operações no ecrã.

Não é a mesma coisa...
Não, e a mesma coisa acontece com o livro, porque o livro tem uma condição táctil e uma dimensão no espaço em que sabes em que parte vais da obra. E a relação entre o cérebro e as mãos é muito importante. Aristóteles citou uma frase que diz: "O homem pensa porque tem mãos". Portanto, toda esta condição táctil em relação ao cérebro é muito importante, e é por isso que temos mais capacidade de retenção quando lemos em papel do que quando lemos no ecrã, porque durante milénios o nosso cérebro se formou dessa forma. Compreender a realidade através do objecto livro é muito útil. O livro é também uma forma de virtualidade: faz-nos pensar em situações que não existem, faz com que o cérebro conceba cenas visuais que se formam a partir da transformação de letras em imagens. A literatura é uma arte visual indirecta, é a única arte visual indirecta, não é constituída por imagens, gera imagens através das letras.

Este exercício é muito útil para compreender a virtualidade, porque a literatura tem trabalhado com a virtualidade também com discursos fragmentários. Há muitas obras que são lidas desde a antiguidade, não se trata de uma novidade, em que se pede ao leitor que estabeleça ligações entre diferentes partes de um texto para o relacionar.

A união de uma obra depende mais da leitura do que da escrita. E é isso que a galáxia digital nos pede para fazer, para estabelecer unidades de sentido para que saibamos o que vale ou não a pena. Aqueles que foram treinados como leitores podem fazê-lo melhor. Uma solução muito importante para preservar o humano é ler.

Passamos constantemente de um estímulo para outro, em que vídeos com mais de um minuto às vezes já nos parecem muito longos. Como observa esta nossa capacidade de atenção que começa a estar completamente fragmentada?
Até já temos programas para ouvir canções a uma velocidade maior. É uma parvoíce. Vivemos numa sociedade de aceleração perpétua. A grande questão é que a leitura é uma forma de paciência e, nesse sentido, é uma forma de meditação. Portanto aquele que tem o conhecimento para poder treinar a leitura pode articular melhor estes estímulos dispersos. Há dirigentes de futebol que já estão a propor tornar os jogos mais curtos porque as pessoas já não têm capacidade de atenção para passar 90 minutos a ver um jogo. É absurdo que assim seja.

Ao mesmo tempo, vemos romances de 400 páginas tornarem-se bestsellers. Ou vemos séries de televisão muito longas, com seis ou sete temporadas, com cenas longas... Enfim. O ser humano não abdicou necessariamente das formas de lentidão, mas creio que a leitura nos dá algo muito importante, que é a administração do tempo a diferentes velocidades. Um romance policial lê-se a uma velocidade superior à de um poema.

Num livro de poemas, dificilmente o lês do princípio ao fim. E, mesmo num poema, lê-se o primeiro verso muito rápido, mas o segundo verso pode ser uma metáfora deslumbrante que te faz parar. A atenção que exigem é diferente. Um aforismo, que tem simplesmente uma linha, pode durar mais tempo mentalmente do que uma página de um romance. A literatura joga com estas variantes do tempo e é também um treino para compreender a realidade em diferentes temporalidades, de modo a geri-las e a desfrutá-las.

Essa alienação que falava de pensar nos telemóveis unicamente como uma vantagem faz lembrar o livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. É um pouco isso que estamos a viver?

A literatura muitas vezes prefigura situações que ainda não existem, tanto negativas como positivas. O mundo de George Orwell, o mundo de Blade Runner, o mundo de Phillip K. Dick, de Aldous Huxley... todos eles figuram este tipo de tecnopólios, que são tecnologias de dominação.

É distópico?
Totalmente distópico. Então vamos ser escravos das máquinas? Isto vai afectar a humanidade de forma desigual. Elon Musk, Mark Zuckerberg ou Jeff Bezos são mais poderosos do que qualquer Presidente do mundo e estão a enriquecer sem limites e vão continuar a fazê-lo. Por isso, temos de criar modos de resistência sociais para evitar que isso aconteça.

Que modos?
O paradoxo é que se trata de uma alienação feliz, não a percepcionamos como sofrimento. Não é como trabalhar dez horas numa fábrica. Na época da Revolução Industrial, era muito claro para os trabalhadores que estavam a ser explorados. Nas fábricas, não tinham outra opção senão trabalhar. Em vez disso, temos a sensação de que é vantajoso estar sempre ao telefone, o que não é necessariamente o caso.

Nesse caso, é muito difícil para as pessoas mudarem. Mas o papel da cultura e do jornalismo é precisamente o de alertar as pessoas. O jornalismo é necessário porque vivemos na era da distorção e das notícias falsas. É precisamente por vivermos na era da distorção que a verdade se tornou cada vez mais revolucionária.

Também fala numa deterioração da intimidade: damos os nossos dados e deixamos que se vasculhe a nossa vida em prol do conforto?
Sim, estamos a dar os nossos dados, mas também existe uma cultura da exposição da intimidade. E isso leva-nos a uma ideia de que só existe o que está representado nas redes.

E tanta informação pode dificultar a nossa compreensão do mundo, não?
Claro, porque o excesso de informação causa um curto-circuito. Não dá para o assimilar. E aí também entra o papel cultural da literatura e da cultura em geral. Para discernir. Temos uma avalanche de informação e aprendemos a dizer "isto sim, este não, este sim, este não". É muito importante rejeitar a informação que não é para ti, que não é uma cultura do cancelamento. Não é negar a cultura, é simplesmente saber o que é eficaz para nós.

Seleccionar?
Sim, seleccionar é muito importante. E essa é outra das condições do ser humano, a noção de medida. No oráculo de Delfos, havia muitas frases, a mais famosa é "conhece-te a ti mesmo". Isso é uma definição do humano, da introspecção, do diálogo interior, que as máquinas não têm. E outro é: "Tudo depende da medida", ou seja, da dose. É muito importante para tudo. Por isso, se tivermos demasiada informação, ela não nos ajuda, não nos serve. Precisamos da dose adequada. A tecnologia também é uma questão de dose: é muito útil quando é a nossa ferramenta, é perniciosa quando nos tornamos seus escravos.

Como definiria este livro? É um estado da arte e uma reflexão sobre a tecnologia e o papel da leitura no meio disto tudo?
O meu livro tem duas partes. A primeira delas é uma leitura da tecnologia, uma interpretação de como a tecnologia está a mudar o mundo contemporâneo; a segunda parte é uma tecnologia de leitura, como a leitura nos permite compreender muito melhor o que somos, e resistir, e explicar a realidade que temos. A primeira parte é o problema, a segunda parte é a solução.