Benfica ou Sporting, quem vai festejar o título de campeão este sábado, dia 17 de maio? Os dois clubes chegam à última jornada empatados, com 79 pontos, mas os leões estão em vantagem no confronto direto (ganharam 1-0 em Alvalade e empataram 1-1, na semana passada, no estádio da Luz). Assim, o Sporting sabe que se ganhar ao Vit. Guimarães é campeão, de nada valendo ao Benfica triunfar em Braga, nem que seja de goleada.
Esta é a 30ª vez, em 90 edições do campeonato, que o campeão se decide na última jornada. Não vamos aqui recordar todos os 29 campeonatos que só se resolveram no fim, mas trazemos-lhe as histórias de 17 deles, alguns bem emocionantes e dramáticos (e mesmo polémicos), a começar pelo primeiro, já lá vão 90 anos.
Curiosidade: em todas as vezes que o campeonato se decidiu na última jornada, só por uma vez o líder não festejou. Aconteceu em 1955, quando o Belenenses, que chegou ao dia das decisões na frente, com mais um ponto do que o Benfica, empatou e foi ultrapassado pelas águias, que agradeceram ao... Sporting - os leões fizeram o 2-2 nas Salésias perto do fim, quando em Belém já estoiravam foguetes, e entregaram o título de campeão ao grande rival.
De referir ainda que só no século XXI já houve oito campeonatos decididos na última jornada. Quanto ao Sporting, a última vez que foi campeão na jornada decisiva aconteceu há 25 anos, em 2000, quando triunfou no terreno do Salgueiros e pôs fim ao jejum de 18 anos sem ganhar o campeonato. Agora, isso pode voltar a suceder.
1934/35 – FC Porto campeão (mais 2 pontos)
Desde 1921 que existia o Campeonato de Portugal, uma prova a eliminar (do género da Taça de Portugal) que apurava o campeão, e que no início contava apenas com os vencedores (nem todos) dos campeonatos regionais.
Em 1934 criou-se o campeonato da I Liga, que agrupava os primeiros classificados dos campeonatos regionais, começando com apenas oito equipas (duas do Porto: FC Porto e Académico; quatro de Lisboa: Sporting, Benfica, Belenenses e União de Lisboa; e ainda Vit. Setúbal e Académica de Coimbra).
O líder FC Porto iria perder com o Benfica (3-0) no Campo das Amoreiras, a quatro jornadas do fim, ficando à mercê do Sporting (com dois pontos de avanço), com quem jogaria na última jornada.
Como leões e dragões venceram os três jogos seguintes (o FC Porto com 3-2 sobre Vit. Setúbal, 7-4 ao União de Lisboa e 7-0 ao Académico do Porto; o Sporting triunfando por 3-1 sobre Benfica, 1-0 frente a Vit. Setúbal e 5-4 diante do União de Lisboa), tudo se resolveria na derradeira jornada, no Campo Grande, em Lisboa.
Para ser campeão, o FC Porto até poderia perder, desde que por um ou dois golos, pois tinha vencido em casa, na primeira volta, por 4-2, e tinha um goal-average favorável de cinco golos em relação ao rival.
Os leões, que tinham de golear, até começaram bem, fazendo o 1-0 logo aos 24 minutos, por Ferdinando. Mas, perto do intervalo, Nunes fez o empate e Lopes Carneiro, logo a abrir a segunda parte, operou a reviravolta. Aos 85 minutos, Soeiro ainda empatou (2-2), mas já não foi a tempo de evitar os festejos dos portistas no terreno dos leões.
1937/38 – Benfica campeão (mesmos pontos)
Vencedor das edições de 1935/36 e 1936/37, o Benfica alcança o primeiro tricampeonato da sua história e do futebol português na última jornada, a 8 de maio de 1938, ao vencer a Académica de Coimbra por 3-1, com dois golos de Rogério (que ainda falhou um penálti) e outro de Xavier.
As águias terminaram empatadas com o FC Porto (ambos com 23 pontos), que "perdeu" o campeonato a duas jornadas do fim, ao empatar (2-2) na receção ao Benfica, em que esteve a vencer 1-0 e 2-1 mas acabou por consentir o empate (aos 65 minutos), num golo de Valadas.
O FC Porto venceu depois o Académico do Porto (7-2), mas o Benfica não vacilou e também triunfou sobre o Belenenses (dois golos de Rogério viraram o 1-0 de Jesus), pelo que tudo se iria decidir na última jornada. E aí a festa foi encarnada, com o tal triunfo sobre a Académica, de nada valendo a vitória portista (1-0) sobre o Belenenses, nas Salésias.
O Benfica sagrou-se campeão com os mesmos 23 pontos do FC Porto, mas vencendo no confronto direto, pois tinha ganho 3-1 na primeira volta, nas Amoreiras, e depois empatou (2-2) no campo do Lima, na cidade do Porto.
De referir, a título de curiosidade, que o Sporting, que venceu os seus últimos cinco jogos, marcando só nessas partidas 38 golos (goleou o FC Porto por 6-1, a Académica por 7-1 e o Carcavelinhos por 13-0), também chegou à última jornada com a hipótese de ser campeão (com menos um ponto que Benfica e FC Porto). Mas para isso acontecer o FC Porto não podia ganhar e o Benfica teria mesmo de ser derrotado. Em resumo, o Sporting também acabaria por "perder" o campeonato contra o seu grande rival lisboeta, pois empatou (a seis jornadas do fim) a dois golos frente às águias.
1938/39 – FC Porto campeão (mais um ponto)
FC Porto e Benfica decidiam o campeão na última jornada, que se disputava no Campo da Constituição, no Porto. O recinto até aumentou a lotação para 20 mil pessoas, já a prever uma enchente (que aconteceu) e uma receita recorde de 117.272 escudos.
Separados por dois pontos, aos portistas o empate chegava para festejar, enquanto ao Benfica, que ganhou por 4-1 na primeira volta, nova vitória permitia-lhe sagrar-se campeão. O FC Porto esteve sempre na frente (1-0, por António Santos, 2-1 por Costuras e 3-2 novamente por António Santos). Os encarnados empataram 3-3 aos 62 minutos, por Brito, e ainda marcariam um quarto golo, num canto, já nos descontos, que foi anulado pelo árbitro, justificado por uma suposta carga ao guarda-redes.
O lance iria gerar grande polémica, com a revista Stadium a publicar uma foto que supostamente comprovava o erro do árbitro, ao que os jornais do Norte reagiram com a acusação de "documento forjado". No meio disto tudo, o presidente do Benfica, Ribeiro da Costa, cortou relações com os portistas.
Com este empate, o Benfica ainda iria acabar em 3º lugar, ultrapassado pelo Sporting, que vencera o Barreirense (2-1), o que levou Ricardo Ornelas, no jornal Os Sports, a dizer que "em terceiro lugar ficou o melhor dos três primeiros", referindo-se ao lance polémico do jogo decisivo como um caso de "excesso de zelo do árbitro".
1939/40 – FC Porto campeão (mais dois pontos)
Foi o primeiro título festejado pelos dragões em casa do Benfica, mas os portistas até poderiam ter perdido que eram campeões à mesma, uma vez que o Sporting, que à partida para a última jornada estava a apenas um ponto dos dragões, empatou no campo do Barreirense (e se terminassem igualados o FC Porto tinha vantagem no confronto direto com os leões).
O FC Porto, aliás, só não venceu um dos 18 jogos do campeonato, precisamente frente ao Sporting em Lisboa (perdeu por 4-3), de resto somou 17 triunfos, tendo marcado 76 golos (ainda assim, o melhor ataque foi dos leões, com 87 golos, sublinhando-se o 12-0 ao Vit. Setúbal e o 11-2 ao Académico do Porto) – numa altura em que as vitórias valiam dois pontos, o Sporting também só teve uma derrota, contra o FC Porto, mas somou dois empates, frente a Belenenses e Barreirense.
No derradeiro jogo, no campo das Amoreiras, a 19 de maio de 1940, o FC Porto sabia que só precisava de um empate (partindo do princípio que o Sporting ganhava no Barreiro) para ser campeão. Os portistas estiveram sempre na frente, chegando ao 2-0 e ao 3-1 (aos 73 minutos), com dois golos de Pinga e um de Kordnya. O Benfica ainda reagiu na ponta final, mas o melhor que conseguiu foi reduzir para 3-2, aos 87 minutos, por Teixeira, pelo que a festa foi da equipa nortenha.
1947/48 – Sporting campeão (mesmos pontos)
Ficou conhecido como o campeonato do "pirolito", em referência a uma bebida gasosa que tinha uma tampa especial – um berlinde –, e surge esse nome porque o campeão ficou decidido "por uma bolinha", ou seja, por um golo.
O Sporting só festejou o título na última jornada, ao vencer no terreno do Lusitano de Vila Real de Santo António (4-1), mas o jogo do título acabou por acontecer a cinco jornadas do fim, no Campo Grande, quando o Benfica recebeu os vizinhos leões.
O Sporting partiu para esse jogo com menos dois pontos do que as águias, e com a desvantagem acrescida de ter perdido por 3-1 em casa. Na véspera da partida o treinador dos sportinguistas, Cândido de Oliveira, benfiquista confesso, foi acusado de estar a delinear uma tática suicida, para entregar o título aos rivais.
Apesar de toda a pressão e de todas as polémicas, o Sporting venceu por 4-1, com um póquer de Peyroteo, e não só igualou o Benfica no topo com os mesmos pontos como passou a liderar devido à vantagem no confronto direto.
Benfica e Sporting iriam seguir juntos até ao fim, mas a duas jornadas do término as águias tiveram uma oportunidade dourada para passarem para a frente, pois os leões perderam (1-0) no campo do Vit. Setúbal. Só que o Benfica também perdeu (2-1), de forma surpreendente, em casa, com o Elvas, com dois golos de Patalino (Elvas que iria ser goleado pelos encarnados por 6-1, para a Taça de Portugal, dali a um mês). Assim, os dois terminaram com os mesmos 41 pontos, pelo que o Sporting foi campeão por um golo – o tal pirolito.
1954/55 – Benfica campeão (mais um ponto)
O Belenenses festejou o primeiro (e único) título de campeão da sua história nove anos antes (1945/46), vencendo em Elvas na última jornada (acabou com mais um ponto do que o Benfica).
Desta vez, tudo parecia encaminhado para ter um fim idêntico. Na última jornada, os azuis do Restelo venciam o Sporting (2-1) já perto do fim do jogo, mantendo assim a vantagem de um ponto sobre os encarnados, que à mesma hora batiam o Atlético por 3-0, no estádio da Luz.
Só que, numa altura em que os adeptos do Belenenses já faziam a festa, com bandeiras desfraldadas e mesmo foguetes a estoirar no campo das Salésias, Martins iria fazer o empate, aos 86 minutos, estragando os festejos aos azuis e oferecendo de bandeja o título ao Benfica, que acabou em 1º com os mesmos pontos do Belenenses. As águias puderam celebrar devido à vantagem no confronto direto (empate na Luz e vitória em Belém, pelo que o 2-1 de Coluna, aos 80 minutos, iria fazer a diferença).
1955/56 – FC Porto campeão (mesmos pontos)
O FC Porto não começou muito bem o campeonato (dois empates nas duas primeiras jornadas, três nas primeiras cinco), mas depois foi recuperando e chegou com dois pontos de avanço ao (soube-se depois) decisivo embate contra o Benfica, a seis jornadas do fim.
Os dragões tinham vencido o Benfica na primeira volta (3-0), pelo que em caso de vitória ou empate na Luz ficavam com vantagem pontual e também no confronto direto. Foi isso que aconteceu, com o 1-1 final, com golos de Teixeira e José Águas (e apesar da expulsão do portista Hernâni, aos 75 minutos).
O FC Porto iria golear a seguir o Barreirense (10-1), beneficiando do empate do Benfica com o Belenenses (2-2) para aumentar a distância para três pontos. Só que, na jornada seguinte, os portistas empataram nas Caldas da Rainha (3-3), pelo que a distância voltou a dois pontos (e ainda havia uma deslocação ao estádio José Alvalade).
Na penúltima jornada, os leões venceram mesmo o FC Porto (1-0), dando esperança aos rivais da Segunda Circular, pois FC Porto e Benfica chegariam à última jornada empatados.
A 29 de abril de 1956, no estádio das Antas, o FC Porto bateu a Académica por 3-0 e fez a festa, de nada valendo a goleada do Benfica (4-1) ao Atlético. Ainda assim, ao intervalo, com os encarnados a vencerem por 3-0 e os dragões empatados (0-0), o Benfica estava na frente e de certeza que ainda muitos benfiquistas sonhavam com o título, que acabou por ser só uma miragem.
1957/58 – Sporting campeão (mesmos pontos)
Este foi o primeiro título de campeão que o Sporting festejou no estádio José Alvalade, terminando com os mesmos 43 pontos do FC Porto, mas vencendo graças ao confronto direto (3-0 em casa e derrota por 2-1 no Porto).
Na penúltima jornada, os leões tiveram um triunfo arrancado a ferros no terreno do Barreirense, com os da casa a queixarem-se de uma irregularidade no único golo do encontro, marcado aos 87 minutos por Vasques, num lance em que o fiscal de linha assinalou falta, mas que o árbitro deixou seguir.
"Se Vasques não tivesse tocado a bola com a mão, eu tinha-a intercetado. Perder assim é penoso, custa muito", dizia no final o guarda-redes do Barreirense.
A verdade é que o FC Porto, que foi muito tempo líder, teve duas derrotas comprometedoras a seis e a quatro jornadas do fim, primeiro no Barreiro e depois em Braga, pelo que os dois rivais chegariam empatados ao dia das decisões.
Polémicas à parte, o Sporting sagrou-se campeão ao vencer, na última jornada, o Caldas (3-0), festejando o 10º título da sua história. "E vão oito! Estou há 12 anos no Sporting e este é o meu oitavo título nacional", referiu José Travassos, conhecido por "Zé da Europa" por se ter tornado o primeiro português a jogar na seleção da Europa, em 1955.
1958/59 – FC Porto campeão (mesmos pontos)
Este foi o primeiro campeonato decidido pelo goal-average. O golo de Teixeira em Torres Vedras, já para lá dos 90 minutos, acabaria por ser fundamental para que os portistas se sagrassem campeões, pois ficaram com mais um golo positivo do que o Benfica, com quem terminaram o campeonato empatados em pontos (41) e também no confronto direto (0-0 nas Antas e 1-1 na Luz).
Esse campeonato ainda hoje é recordado com indignação pelos portistas, pois acreditam que o árbitro do Benfica-CUF, Inocêncio Calabote, tudo fez para ajudar as águias.
Nessa última jornada, FC Porto e Benfica surgiam empatados, e se ambos vencessem, os encarnados só seriam campeões se marcassem mais quatro golos do que aqueles que os portistas averbassem. Ao intervalo, os dragões ganhavam ao Torrense por 1-0 e, na Luz, as águias já venciam por 3-0 (com dois golos de penálti de José Águas).
A poucos minutos do fim, o resultado mantinha-se em Torres Vedras (apesar da expulsão do torrense Manuel Carlos, aos 65 minutos), enquanto na Luz o Benfica vencia por 6-1 e era virtual campeão.
Aos 89 minutos, Noé fez o 2-0 para o FC Porto e os nortenhos voltavam para a frente do campeonato. Só que na mesma altura, na Luz, Mendes fazia o 7-1 e punha novamente os lisboetas na frente. Então, já quase com 91 minutos, Teixeira fez o 3-0 que iria ser decisivo.
O jogo de Torres Vedras terminaria dali a pouco, com invasão de campo e os jogadores do FC Porto engolidos pelos adeptos. Mas tudo ainda poderia mudar, se houvesse um golo na Luz, pois o jogo do Benfica ainda não terminara. Jogadores e adeptos portistas desesperavam, sem notícia do final do jogo, que só terminou 12 minutos depois da partida do FC Porto, com o árbitro a justificar-se que tinha começado mais tarde.
Cândido Tavares, treinador da CUF, criticava o árbitro: "Só estranhei que Inocêncio Calabote não tivesse arranjado uma quarta grande penalidade nos últimos minutos. Não foi árbitro nem foi nada".
Já Belá Guttmann, que por se ter sagrado campeão recebeu um emblema portista feito de diamantes, desabafou: "Este foi o título mais dramático que conquistei – e já ganhei oito um pouco por todo o mundo". Guttmann iria mudar-se no final dessa época para o Benfica, onde iria ganhar duas Taças dos Campeões Europeus.
1965/66 – Sporting campeão (mais um ponto)
Foi um campeonato de reviravoltas entre Benfica e Sporting, com os leões a triunfarem na derradeira jornada, impedindo assim o tetra dos encarnados, aos quais ganharam na Luz (4-2) para o campeonato ao fim de 11 anos, numa tarde em que Lourenço fez quatro golos.
O Sporting ia bem lançado para o título, mas a derrota caseira contra o Benfica (em fevereiro de 1966), por 2-0, com golos de Eusébio e José Torres, deixa as águias a apenas um ponto da liderança. Logo na jornada seguinte, o empate em Braga deixa os dois rivais empatados no comando, a seis jornadas do fim. O Sporting ainda iria somar mais dois empates, mas as duas jornadas sem vencer no Minho (derrota em Guimarães e empate em Braga), seriam fatais para o Benfica.
Os dois rivais chegaram assim separados por um ponto à última jornada e iguais no confronto direto, sendo que se o Sporting empatasse na Póvoa de Varzim e o Benfica vencesse o Belenenses, as águias só seriam campeãs se anulassem o goal-average de sete golos favorável ao Sporting.
Bom mesmo era o Varzim (que estava tranquilo, a meio da tabela) bater o Sporting, e nos jornais logo surgiram notícias de que o Benfica oferecia um prémio de 20 contos a cada jogador poveiro em caso de triunfo. Apesar do incentivo ao adversário, os leões conseguiram mesmo triunfar (Peres fez o 2-1 final a meio da segunda parte), de nada valendo ao Benfica ganhar ao Belenenses (3-1). A festa foi mesmo verde e branca.
1977/78 – FC Porto campeão (mesmos pontos)
Há 19 anos que Benfica e Sporting dividiam os títulos entre si, mas a 11 de junho de 1978 o FC Porto goleou o Braga por 4-0, no estádio das Antas, e pôs fim a um longo jejum de títulos, tendo como treinador José Maria Pedroto – curiosamente, ele tinha integrado o plantel que ganhara o último troféu de campeão, em 1959, como jogador.
O FC Porto sofreu apenas uma derrota (2-0 no Estoril, logo à 2ª jornada), somando ainda sete empates, terminando o campeonato com os mesmos 51 pontos do Benfica e iguais no confronto direto (0-0 na Luz e 1-1 nas Antas) mas com vantagem nos golos marcados e sofridos. Assim, chegando à última jornada empatados, em caso de vitórias de dragões e águias, o Benfica só seria campeão se anulasse os 12 golos a mais do FC Porto no goal-average.
Ambos iriam ganhar, e por resultados idênticos, com o FC Porto a bater em casa o Sp. Braga por 4-0, enquanto o Benfica vencia também folgadamente, não muito longe dali (em Braga), o Riopele por 4-1.
Posto isso, o "jogo do título", nessa época 1977/78, acabaria por ser o embate entre FC Porto e Benfica, nas Antas, a três jornadas do fim. Os dragões estavam na frente, com mais um ponto do que as águias, pelo que para os lisboetas era fundamental ganhar. E o jogo começou bem para o Benfica, que aos 3 minutos já vencia, com um autogolo de Simões. "Aquilo foi uma tortura, apertou-me o estômago e senti-me só e desesperado", confessaria o defesa, que foi salvo pelo golo de Ademir a oito minutos do fim, estabelendo o 1-1 final, que manteve o FC Porto na liderança.
O treinador benfiquista, John Mortimore, exclamou que "o FC Porto não joga nada", enquanto Pedroto ripostou que "uma vitória do Benfica seria o crime do século". O treinador portista, após o triunfo sobre o Sp. Braga, na última jornada, em que andou em ombros levado pela multidão, iria desabafar: "Passámos de pombinhos provincianos a falcões moralizados".
1985/86 – FC Porto campeão (mais 2 pontos)
A época até começou bem para os portistas, com a vitória sobre o Benfica (2-0) na jornada inaugural, com golos de Juary e Fernando Gomes. Contudo, a meio da época, três derrotas seguidas fora de casa (em Portimão, Guimarães e Covilhã), deixam o Benfica no comando da classificação.
Com Zé Beto lesionado, o FC Porto vai buscar o guarda-redes polaco Mlynarczyck e a verdade é que não sofre nem mais uma derrota no campeonato, a começar logo na sua estreia, no 0-0 no estádio da Luz, a 4 de janeiro de 1986.
Ainda assim, os portistas somaram empates com Boavista e Marítimo, pelo que a três jogos do fim, quando ganharam 1-0 na receção ao Vit. Guimarães e o Benfica triunfou no Belenenses (1-0), o título estava quase sentenciado para as águias, que na penúltima jornada recebiam o Sporting e até podiam festejar o título.
A questão é que os leões, que não ganhavam na Luz há quase 20 anos, foram lá vencer por 2-1 (golos de Morato e Manuel Fernandes). E como os dragões triunfaram em Setúbal (1-0), com um golo de Futre, alcançaram as águias no topo da liderança, com os mesmos pontos mas com vantagem no confronto direto.
Depois da oferta leonina, o FC Porto venceu em casa, na última jornada, o Sp. Covilhã (4-2), e festejou o título. O FC Porto estava a perder por 2-1 aos 60 minutos, mas dois golos de Gomes, em três minutos, permitiram a reviravolta – contudo, nem precisava de ganhar, pois ali ao lado, no estádio do Bessa, o Benfica perdeu por 1-0 (golo de Walker, aos 53 minutos).
1999/2000 – Sporting campeão (mais 4 pontos)
Após 18 anos de jejum, o Sporting voltaria a festejar o título de campeão, conquistando-o no… Porto, com a vitória por 4-0 sobre o Salgueiros.
O arranque dos leões não foi brilhante, com um empate (2-2) nos Açores, seguindo-se mais duas igualdades, à quarta e quinta jornada, com Estrela da Amadora e Gil Vicente, o que levaria ao despedimento do treinador italiano Giuseppe Materazzi, substituído por Augusto Inácio.
O FC Porto foi seguindo tranquilamente na frente do campeonato, embora com alguns percalços (como os empates em Alverca e Rio Ave). Até que surge o desaire com o Campomaiorense e, dali a três jornadas, o importante Sporting-FC Porto, que, em caso de vitória, permitiria aos leões passarem para a frente (o que viria a acontecer, com golos de André Cruz e Acosta).
A sete jogos do fim, o Benfica deu uma ajuda, vencendo o FC Porto e alargando a distância dos leões para os dragões, no topo, para quatro pontos. Uma vantagem que se iria reduzir para apenas dois pontos logo na jornada seguinte, com o empate dos leões em Leiria.
A três jornadas do fim, o FC Porto empatou 3-3 em Faro (começou a perder aos 5 minutos, mas aos 31 já vencia por 3-1, deixando-se empatar aos 82 minutos), deixando os leões com a possibilidade de festejarem na jornada seguinte, se vencessem o Benfica.
Só que Sabry, de livre, aos 88 minutos, gelou o estádio de Alvalade. O Sporting perdia e ficava com apenas um ponto de avanço sobre o FC Porto. Na última jornada, os leões tinham de vencer o Salgueiros, em Vidal Pinheiro (o empate não chegava, pois o FC Porto tinha vantagem no confronto direto). Isto se os portistas vencessem em Barcelos (mas o Gil Vicente acabaria por ganhar).
O Sporting estava empatado (0-0) ao intervalo, mas o FC Porto já perdia em Barcelos, pelo que a festa estava bem encaminhada para os leões. E melhor ficou com os golos de André Cruz e Ayew logo a abrir a segunda parte – e a goleada seria confirmada já no último quarto de hora, primeiro por Duscher e depois com o bis de André Cruz.
2004/05 – Benfica campeão (mais 3 pontos)
Foi o mais longo período de jejum no que concerne ao título de campeão nacional para as águias – 11 anos sem festejar. O fim aconteceu na última jornada, no estádio do Bessa, com a festa a ser feita perto do rival FC Porto, que no estádio do Dragão empatava com a Académica – mas ganhar não serviria de nada.
O campeonato foi festejado no Bessa, mas o "jogo do título" iria acontecer na penúltima jornada, no estádio da Luz, frente ao Sporting, com o golo de Luisão que ainda hoje os sportinguistas apontam como ilegal por considerarem que houve falta sobre o guarda-redes Ricardo.
A três jornadas do fim, o Benfica perdeu em Penafiel e o FC Porto empatou no terreno do Moreirense, pelo que o Sporting (que triunfou por 1-0 sobre Vit. Guimarães) passou para a liderança, com os mesmos pontos das águias e com mais três do que os dragões.
Seguia-se o decisivo Benfica-Sporting, sendo que aos leões, que tinham vencido por 2-1 na primeira volta, em Alvalade, um empate chegava para poderem festejar o título na última jornada, diante do Nacional.
Ora, nada disso aconteceu, com o Sporting a viver uma autêntica semana de pesadelo, pois perdeu na Luz com o tal golo de Luisão. E, quatro dias depois, os leões recebem outra desilusão, perdendo a final da Taça UEFA, em casa, diante do CSKA Moscovo (por 3-1, depois de estarem a ganhar por 1-0 ao intervalo). Face a isto, percebe-se o desaire caseiro na última jornada, diante do Nacional (4-2).
Enquanto os leões carpiam mágoas, os rivais da Segunda Circular festejavam o fim do jejum, consumado nesse empate (1-1) no Bessa, acabando assim com mais três pontos do que os dragões e mais quatro face aos leões. E viajando logo do Porto para Lisboa, para serem engolidos pela multidão no Marquês de Pombal.
2012/13 – FC Porto campeão (mais um ponto)
Foi mais um campeonato decidido na última jornada, mas em que o "jogo do título" aconteceu na penúltima jornada, quando Kelvin marcou aos 93 minutos o 2-1 do FC Porto sobre o Benfica, levando o estádio do Dragão à loucura.
Mas para se chegar aqui, é preciso andar mais uma semana para trás. À entrada da antepenúltima jornada, o Benfica, treinado por Jorge Jesus, liderava o campeonato, com mais 4 pontos do que o FC Porto (orientado por Vítor Pereira). As águias recebiam o Estoril no estádio da Luz e sabiam que em caso de vitória o título dificilmente escapava – aliás, até podiam festejar na semana seguinte, em casa do rival FC Porto. Mas, mesmo que perdessem no Dragão, teriam a última jornada para fazer a festa, pois defrontavam em casa o Moreirense.
Problema: o Benfica não venceu o Estoril, no estádio da Luz. Com 0-0 ao intervalo, o lateral canarinho Jefferson, aos 59 minutos, marcou de livre, num remate que bateu no relvado e enganou o guarda-redes Artur (que seria depois criticado pelos adeptos). Aos 68 minutos, outro lateral, mas este dos encarnados, Maxi Pereira, restabeleceu a igualdade (1-1), dando ao Benfica a esperança na reviravolta. Mas aos 78 minutos Carlos Martins foi expulso, complicando ainda mais a tarefa dos encarnados, que acabaram por empatar e reduzir a vantagem para o FC Porto a apenas dois pontos. Ou seja: o jogo no estádio do Dragão iria tornar-se decisivo.
Ainda assim, o Benfica partia em vantagem, e um empate bastava para se manter na liderança. No Dragão, os encarnados até começaram a ganhar, com um golo de Lima aos 19 minutos, após uma confusão na área na sequência de um lançamento lateral. Os dragões iriam empatar sete minutos depois, num autogolo de Maxi Pereira na sequência de um cruzamento de Varela.
O resto do tempo mostrou um jogo amarrado, com as duas equipas a não conseguirem criar grandes oportunidades – o Benfica estava confortável, porque o empate chegava, e o FC Porto não mostrava grande capacidade para incomodar o adversário. Até que, aos 92 minutos, surgiu o 2-1 com um golo do recém-entrado Kelvin, após uma recuperação de bola e uma tabela com Liedson, com um remate cruzado.
Com este golo, que deixou Jesus de joelhos e Vítor Pereira a correr eufórico pelo relvado, o FC Porto ultrapassou o Benfica na classificação. Ainda assim, faltava a última jornada, e os dragões tinham uma deslocação difícil, a Paços de Ferreira, a equipa sensação da prova (terminou num inédito 3º lugar, num campeonato onde o Sporting obteve a pior classificação da sua história, o 7º lugar).
Os portistas mais pessimistas falavam em cautela, e os benfiquistas mais otimistas acreditavam que podia haver um deslize dos dragões na capital do móvel. Mas Lucho e Jackson Martinez marcaram e deram a vitória (2-0) ao FC Porto, abrindo o champanhe para os portistas e deixando cabisbaixos os 65 mil adeptos do Benfica que encheram a Luz para o jogo com o Moreirense (as águias venceriam por 3-1).
Dois meses antes, Vítor Pereira, após a derrota do FC Porto em Barcelos, com uma arbitragem polémica, disse que "era melhor entregarem já o título ao Benfica". Mais tarde, admitiu que tinha feito essas declarações apenas para fora, de forma estratégica. "O FC Porto nunca iria entregar um campeonato sem lutar até ao fim. É o ADN do clube e o espírito dos adeptos".
2015/16 – Benfica campeão (mais dois pontos)
Foi a grande bomba do verão: Jorge Jesus deixou o Benfica ("empurrado" pelo presidente, Luís Filipe Vieira, que terá pensado que ele ia para o estrangeiro) e mudou-se para o Sporting. E Jesus, bem ao seu estilo, com "bocas" e mindgames, começou bem, vencendo a supertaça sobre a sua antiga equipa. Melhor: para o campeonato, o Sporting foi à Luz e venceu por 3-0, com Jesus a desdenhar do seu sucessor no clube encarnado, Rui Vitória, dizendo que ele não tinha mãos para guiar o Ferrari que era o Benfica. Mas a vingança iria servir-se fria.
O Sporting foi seguindo confortável na liderança e tudo parecia revelar que iria ser campeão. Até que, na 24ª jornada, os leões empataram em Guimarães (0-0) e ficaram com apenas um ponto de avanço sobre o Benfica, que iriam receber na semana seguinte. Ou seja, uma vitória ou empate dos verdes e brancos mantinha ou aumentava a vantagem (até porque o Sporting ainda tinha duas deslocações difícieis, ao Dragão e a Braga).
Só que o Benfica iria vencer (1-0, golo de Mitroglou) em Alvalade, num jogo que ficou na memória dos sportinguistas pelo falhanço incrível (com a baliza deserta) de Bryan Ruiz, aos 75 minutos, que na altura daria o empate. Com este triunfo, o Benfica passou para a frente e venceu todas as nove jornadas seguintes (em campos difíceis como Bessa, Rio Ave e Marítimo, além das vitórias caseiras sobre Sp. Braga e Vit. Guimarães), de nada valendo ao Sporting fazer o mesmo (ganhou 2-1 no Estoril, 5-2 no Belenenses, 3-1 no terreno do FC Porto e 4-0 em Braga).
Assim, na última jornada, contra o Nacional, o Benfica vencendo fazia a festa (um empate não chegava, porque perdia no confronto direto frente ao Sporting). Um golo de Gaitán logo aos 23 minutos e outro de Jonas aos 39 permitiu abrir o champanhe ao intervalo, seguindo-se ainda mais dois golos (outro de Gaitán e um de Pizzi), reduzindo Salvador Agra (nos descontos) para os madeirenses.
No Benfica, Jonas, com 32 golos, foi um dos destaques, assim como Mitroglou, que fez o golo decisivo em Alvalade. Mas há que dar ainda relevo ao jovem Renato Sanches, vindo da formação, que entrou na equipa em novembro e nunca mais saiu - iria mesmo ser convocado para a seleção, tornando-se uma figura do Euro 2016, que acabaria com o triunfo de Portugal ao bater a França na final com o golo de Éder.
2022/23 – Benfica campeão (mais 2 pontos)
O Benfica de Roger Schmidt parecia ir vencer de forma categórica o campeonato. Logo à décima jornada, ao triunfar no Dragão sobre o FC Porto de Sérgio Conceição, aumentou para seis pontos a vantagem em relação aos portistas. À 26ª jornada, a diferença passou para 10 pontos sobre os dragões. O problema é que depois houve ali uma quebra, com as águias a perderem seis pontos em apenas uma semana, primeiro com a derrota (2-1) no estádio da Luz, frente ao FC Porto, e depois em Chaves, na jornada seguinte. A seis jogos do fim, a vantagem ficava reduzida a 4 pontos, ainda assim significativa, apesar de as águias ainda terem uma deslocação difícil a Alvalade.
Com mais ou menos dificuldade, o Benfica venceu Estoril, Gil Vicente, Sp. Braga e Portimonense, pelo que chegava à penúltima jornada, onde iria defrontar o Sporting, com os tais quatro pontos de avanço sobre o FC Porto (que também venceu os seus jogos a seguir ao triunfo na Luz – 2-1 ao Santa Clara, 2-0 ao Paços de Ferreira, 1-0 ao Boavista e 1-0 ao Arouca).
Uma vitória em Alvalade dava ao Benfica o título, independentemente do que o FC Porto fizesse contra o Casa Pia. Um empate, ou mesmo a derrota, também não era grave, pois as águias ficariam sempre à frente dos dragões, podendo resolver o campeonato na última jornada, frente ao Santa Clara – e foi isso que aconteceu, mas tudo teve de ser mesmo adiado para a derradeira partida, no estádio da Luz, a 21 de maio de 2023, uma vez que o dérbi terminaria empatado, com o 2-2 final a surgir aos 90+4 minutos, por intermédio de João Neves (isto depois de o Sporting chegar ao intervalo a ganhar por 2-0).
Na semana seguinte a ser campeão, Roger Schmidt falou com os jornalistas e afirmou: "Estivemos 10 pontos à frente, no fim terminámos dois pontos à frente. Está tudo bem. Não queríamos ser campeões com 20 pontos de vantagem. Queríamos ser campeões. Não importava se era por um ponto ou por diferença de golos. Claro que para o nervosismo seria melhor ter 10 pontos de vantagem, mas não foi possível e temos de aceitar a qualidade das outras equipas".
Sobre aquelas duas semanas negativas, em que o Benfica perdeu com FC Porto e Chaves e foi afastado da Liga dos Campeões pelo Inter Milão, Schmidt afirmou: "Foi a pior fase da época para nós. Jogámos a um nível muito elevado e sem muitos altos e baixos ao longo da época, mas nessas duas semanas não estivemos ao mais alto nível. Alguns jogadores tiveram dificuldades com a condição física. Mas não fomos assim tão maus, a questão é que nesses jogos os nossos adversários foram mais eficazes, e temos de aceitar isso".
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