A Sevenair perdeu alguns dos seus colaboradores enquanto a rota regional Bragança-Portimão foi descontinuada e está a procurar outros serviços para garantir a sua sustentabilidade, disse hoje à agência Lusa o diretor de voo da empresa.
Na terça-feira, durante uma audição da Comissão Parlamentar de Economia, Obras Públicas e Habitação da Assembleia da República, a pedido do Chega, o diretor da Seven Airlines, Carlos Amado, disse que ainda não há data para a retoma dos serviços regionais e que o estado estava atrasando os pagamentos, forçando a empresa a entrar em estado de “dispensa”.
"Já se passaram quase quatro meses de paralisação, o que foi devastador para a empresa e para as áreas afetadas. (…) Quanto mais demora, mais difícil é recomeçar. (…) Posso afirmar que perdemos alguns funcionários. Já não conseguiam manter esta situação”, disse Sérgio Leal, que lembrou que a empresa tinha cerca de 100 funcionários.
No entanto, o governo reembolsou cerca de metade da dívida da empresa, ou cerca de 3,8 milhões de euros, enquanto a Sevenair deve reservar mais de 600 mil euros como contrato de garantia bancária necessária para assinar a nova concessão, que permanece pendente.
"Como temos aguentado? Temos outra rota aérea e estamos em busca de outros serviços. Isto já não é um acidente, fomos informados desta situação. Não podemos continuar a contar com esta rota (Bragança-Portimão) que não tem ponto de partida. Estamos até a competir por outra ligação regional dentro da Europa mas fora do país e estamos à espera dos resultados. Isso se tornou inviável. Imaginem agora se já estivéssemos em défice em setembro, quando fomos obrigados a parar”, lamentou Sérgio Leal.
A ligação Bragança/Villarreal/Viseu/Cascais/Portimão foi interrompida no dia 30 de setembro, encerrando o último ajustamento direto enquanto se aguarda o resultado do concurso público internacional para atribuição de mais quatro anos de franquia. Antes disso, em fevereiro, o número de voos diários havia sido reduzido.
Foi nesse mês que a companhia aérea anunciou que iria parar o transporte até pagar o valor que tinha a receber do Estado por se encontrar numa situação de “gargalo financeiro”.
Desde o início da concessão até à cessação dos serviços, houve dois ajustamentos diretos, primeiro com o governo socialista e depois com o atual governo liderado por Luís Montenegro.
Os resultados do concurso geral serão divulgados no final de 2024, sendo o único concorrente Sevenair, que presta o serviço desde 2009, escolhido para continuar a operar nos próximos quatro anos.
O governo anunciou no dia 21 de dezembro que o processo de contratação foi concluído e o novo contrato foi assinado.
“Depois do leilão, o serviço foi adjudicado à Sevenair, os compromissos financeiros foram cumpridos e as obrigações contratuais da Sevenair com o Estado foram reafirmadas, os serviços públicos prestados pela ligação podem voltar a ser integralmente restabelecidos”, informa o Ministério da Saúde. Infraestruturas e Habitação, considera que foi uma “conquista processual do poder executivo que permitiu o restabelecimento dos serviços públicos”.
Sergio Leer revelou à Lusa que o novo contrato “aumenta significativamente” o valor pago pelo Estado em cerca de 3 milhões de euros, totalizando 13,5 milhões de euros nos próximos quatro anos.
No entanto, o Tribunal de Contas recusou o visto e concluiu que o contrato precisava de ser revisto, levantando questões sobre as datas constantes do documento.
"A data de início permanece a indicada no edital, 1º de outubro de 2024. Obviamente, não iniciamos as operações lá. É mais ou menos normal que o Tribunal de Contas se refira a este aspecto, até porque, tendo em conta que (…) o contrato vai durar até 2029, deve haver espaço orçamental nesse ano”, explicou Sérgio Leal, acrescentando que ele Não há razão para ter sucesso.
O contrato terá de ser reformulado e assinado novamente para ser colocado em conformidade, o que atrasará o restabelecimento da ligação aérea regional.
"(…) As regiões que não têm serviços procurarão alternativas, por piores que sejam. Claro que se recomeçarmos mais tarde, poderá ser um começo mais difícil no sentido de termos uma taxa de ocupação viável. Esta é a realidade que temos de enfrentar”, pondera Sérgio Leal.
A taxa de ocupação de passageiros em 2023 regressou aos níveis pré-pandemia e manteve-se em 65% em 2019, transportando 13.000 passageiros anualmente.
"Esperamos que a recuperação deste período de estagnação tenha um custo, e se estes quatro meses, (…) um ano não forem suficientes. Infelizmente, mesmo que as linhas sejam restabelecidas agora, ainda estaremos a combater a corrente durante algum tempo”, observou Sérgio Leal.
A Lusa contactou o Ministério das Infraestruturas e Habitação e aguarda resposta.