Encontro de intercâmbio, quando a comunidade ainda era a mãe da sociedade |

Os artigos da equipe do PÚBLICO Brasil são escritos na variante do português falado no Brasil.

Acesso gratuito: Baixe o aplicativo PÚBLICO Brasil no Android ou iOS.

Até o início da década de 1970, existia uma aldeia chamada Olhos D'água na periferia de Brasília, no Cerrado central, no Planalto Central. A pequena aldeia tem pouco mais de 400 moradores e para obter sal é preciso viajar de carro de boi até o interior de Minas Gerais. Uma viagem que durou cerca de três meses, ida e volta. Também não havia dinheiro e a única forma possível de sobrevivência era a troca, a "catiragem". Carregavam sacos de arroz e feijão em troca de sal.

Em 1970, Laïs Aderne, professora da Universidade de Brasília (UnB), arte-educadora e dramaturga, conheceu Olhos D'água porque nos finais de semana ela e seu maestro a trupe trabalham juntos para encontrar um lugar tranquilo para ensaiar uma peça. Jogar. Pessoas que enganam o diabo e ainda pedem trocopara inaugurar o Teatro Galpão, em Brasília. A ideia é ter um circo sem anões, sem feras de equilíbrio, sem engolidores de espadas, sem animais, e o diabo é o dono do circo.

Não foi diferente da inauguração de segunda-feira (20/1) nos Estados Unidos, onde Donald Trump e Elon Musk fizeram uma festa de terror sem conhecer as palavras de Louis Gutenberg: Ninguém abandona o personagem depois de sair do teatro.

"Não há anões no circo, nem feras que se equilibram, nem engolidores de espadas, nem animais. Mas o que torna o circo especial é o diabo. Esta é uma sinopse do artigo, mas poderia muito bem ser uma referência a." Inauguração do presidente Trump "Comunicado de imprensa".

A peça foi o primeiro grande sucesso de público da história do teatro no Distrito Federal. Pessoas faziam fila para assistir às aventuras de um homem comum em torno do diabo sob uma ditadura militar.

Durante uma visita a Olhostagua, Les conheceu artesãos locais que fiavam algodão no campo e em fusos, produzindo cochos de madeira e barro, além de bonecos de palha e pano. No entanto, foram privados da vida e da mais baixa dignidade do mundo devido ao início de um programa social em que o desenvolvimento só levava em conta a economia das pessoas que eram tratadas como demónios cuspidores de fogo.

A Feira do Troca foi fundada por ela em 1974 como uma comunidade de artesãos que trocam artesanato por roupas usadas, sapatos e utensílios domésticos trazidos por turistas de Brasília, na tentativa de resgatar a autoestima dessa comunidade em extinção.

Cinquenta anos depois, a Feira do Troca ainda existe para garantir uma diversidade cultural única, uma troca de conhecimentos, uma sede de mestres e para mostrar num microcosmo que a comunidade pode ser um bom remédio para a sociedade.

O que Laïs Aderne escreveu em 1974 foi um prenúncio dos tempos sombrios que vivemos hoje: “O mercado unificado é um dos maiores problemas para a preservação do património cultural, que muitas vezes é comprado e vendido antes de ser absorvido pelas gerações mais jovens”.

Esperamos que possamos encontrar outras trocas onde possamos usar as redes sociais para trocar bonecos de pano e teares para lembrar a importância do arroz, do feijão, do sal, dos carros de boi e da comunidade.