ECO da Campanha. Debate sobre coligações pós-eleitorais vira à esquerda

Depois de ser tema do dia na direita, o debate sobre coligações e o voto útil transferiu-se esta terça-feira para a esquerda, com os antigos parceiros de Geringonça a falarem sobre o tema, ao qual se juntou também o Livre. No dia em que uma sondagem dá ao PS a possibilidade de registar o pior resultado desde 1987, Pedro Nuno Santos, contou numa ação com a presença de antigos companheiros no governo de António Costa: Mariana Vieira da Silva, Ana Mendes Godinho (candidata a Sintra) e António Costa Silva.

“É só nisso que eu vou estar concentrado nos próximos dias, dizer às pessoas que é mesmo possível viver melhor em Portugal e que podem confiar em nós, não só neste contexto de incerteza, mas para continuarmos a transformar o país, para aumentarmos salários, para aumentarmos pensões, para reduzirmos o custo de vida, para garantirmos casas e defendermos o Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, disse o líder socialista, citado pela Lusa.

Ainda assim, o debate sobre futuras coligações pós-eleitorais também não abandonou a direita. O líder da Iniciativa Liberal (IL) afirmou que está focado em convencer os portugueses e que não deixará de ser “muito exigente” com a coligação encabeçada por Luís Montenegro. “A AD não é um problema meu”, desvalorizou Rui Rocha. No entanto, mais tarde, garantiu que independentemente de uma eventual coligação pós-eleitoral, será “muito exigente” do ponto de vista das condições programáticas de mudança do país”.

“São também muito importantes, obviamente, todas as condições de credibilidade para executar um programa que tem de ser um programa diferente. Nós cá estamos para assegurar isso, como temos afirmado”, disse Rui Rocha. Uma questão à qual o líder da AD também não escapou. Luís Montenegro salientou que a AD não é “nem socialista”, “nem liberal”.

Na mesma ocasião, durante uma visita a uma escola técnica de polícias, Montenegro trouxe o tema da segurança para a ordem do dia, voltando a repetir o argumento de que Portugal “é um país seguro, mas que não dá essa segurança como adquirida” e de que o “aumento da criminalidade grupal, da delinquência juvenil, criando sentimento de insegurança que é preciso inverter” se combate com mais policiamento.

A presença do filho do primeiro-ministro na campanha da AD na segunda-feira ainda faz eco. “É uma situação completamente normal um filho ir apoiar um pai. Sinto-me muito motivado por ter a minha família comigo. Esteve presente para apoiar o pai. Foi esse o objetivo. Teve a simpatia de responder às vossas perguntas e disse aquilo que entendeu”, respondeu aos jornalistas o líder da AD quando questionado sobre o tema.

A segurança não foi o único tema abordado pelas caravanas ao longo do dia. A saúde também esteve em destaque, no rescaldo da presença da ministra Ana Paula Martins numa ação de campanha da AD na segunda-feira. A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, acusou a governante de ser “um caso muito paradigmático de incompetência, de arrogância e de uma visão sobre o SNS que está errada“.

“Diria que se tivesse que escolher uma destas três características, a mais importante é a visão errada sobre o SNS”, criticou. No dia em que garantiu que “não está em causa nem a sobrevivência nem o futuro do Bloco”.

Por seu lado, o secretário-geral do PCP reafirmou que a CDU nunca falhou “às soluções concretas para a vida das pessoas“. “Se todos fizessem como o PCP e a CDU fizeram sempre, a vida de cada um estaria muito melhor”, disse Paulo Raimundo, que falava aos jornalistas durante uma arruada em Benfica, no concelho de Lisboa, citado pela Lusa.

Já o líder do Chega admitiu que a vitória da AD “é uma possibilidade em cima da mesa”, mas considerou que “se Luís Montenegro vencer, nós não teremos estabilidade nos próximos meses em Portugal”. Em Tavira, André Ventura, que desde o arranque da campanha tem mostrado confiança que o seu partido será o mais votado, quando questionado sobre se a declaração se trata de uma mudança de posição, reafirmou: “Não mudou nada. A nossa convicção é a mesma, a de que vamos vencer”, afirmou.

Tema quente

Frente esquerda (pouco) unida

Com um cenário de instabilidade governativa a pairar não é apenas à direita que se fazem contas. Apesar de nenhuma das sondagens até à data apontar para uma maioria à esquerda, o tema tem sido trazido para a praça pública pelo líder do Livre desde o arranque da campanha. Enquanto o PS ataca com uma caça ao voto útil e o PCP e o BE procuram contrariá-lo, Rui Tavares defende uma solução governativa à esquerda para combater o “canibalismo e radicalismo” da direita.

“Não vou ficar sentado à espera que a esquerda deixe de ver passar navios, porque ouvimos os noticiários e percebemos que, basicamente, a direita já está a dividir o espólio”, disse o líder do Livre.

A posição de Rui Tavares não ficou sem resposta por parte do partido coordenado por Mariana Mortágua. “O programa da esquerda não pode ser ir para o Governo, porque depois perguntam-nos, ‘ok, e chegando ao Governo vão fazer o quê?’ Não basta chegar ao Governo, é preciso dizer às pessoas o que é que vamos fazer. E é por isso que estamos aqui a falar sobre habitação”, afirmou a bloquista esta tarde.

Segundo Mariana Mortágua, a esquerda “já mostrou no passado que se sabe unir”, em alusão à Geringonça, mas destacou que tal aconteceu “em torno de propostas e programas concretos”.

Um cenário que Paulo Raimundo também comentou para deixar recados. “O Livre faz apelos ao PS. O PS responde aos apelos do Livre. O que nós apelamos é ao nosso povo, aos trabalhadores, àqueles que trabalharam a vida inteira, à juventude, que provoquem um sobressalto. Provoquem um sobressalto não para as negociatas, mas para resolver a problema da vida de cada um”, disse, segundo a Lusa.

Para Paulo Raimundo, quem faz essa exigência “não está atrás”, mas “muito à frente, a querer firmar um projeto de futuro”.

A figura

Desinformação

Não é uma figura humana, mas pode influenciar determinantemente os resultados eleitorais. A desinformação também entrou na segunda semana de campanha. No arranque do dia, o TikTok anunciou um conjunto de medidas antes das eleições legislativas portuguesas, que levaram a remoção de “mais de 275 peças de conteúdo” que violavam as regras, incluindo desinformação. A rede social apagou ainda mais de 45.000 contas falsas, mais de 390.000 gostos falsos e 26.000 seguidores falsos relacionados com as eleições.

Durante a tarde, foi a vez da Comissão Nacional de Eleições (CNE) entrar em ação, alertando que “está a circular um e-mail fraudulento que, de forma ilícita, utiliza a identidade da Comissão, apresentando um endereço de remetente falsificado e disponibilizando um link para votar online“. Esta entidade explica que a mensagem constitui uma tentativa de fraude, com o objetivo de induzir os eleitores a acederem a uma ligação maliciosa.

No entanto, segundo apurou o ECO, a mensagem eletrónica em causa não se tratou de uma tentativa de fraude nem está em circulação. Foi apenas um banco que resolveu testar os funcionários para ciberataques.

O porta-voz da CNE, André Wemans, confirmou ao ECO que “no processo de investigação” desta situação que foi denunciada às autoridades, a Comissão “foi informada tratar-se de uma campanha de phishing interna sobre as eleições legislativas de forma a testar a capacidade de identificação e denúncia de tentativas de ataques de phishing por parte dos colaboradores de uma empresa particular”.

Não teve a CNE informação de outros casos semelhantes, mas, por uma questão de informação e esclarecimento, considerou importante emitir o comunicado (a alertar) que quaisquer e–mails com estes conteúdos devem ser considerados uma tentativa de fraude”, acrescentou o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições.

Numa outra nota, assinala-se que a CNE disponibilizou um serviço aos eleitores através do qual poderão reportar, através do Whastapp (com o número 964 846 227) casos de conteúdos de desinformação e publicidade paga. O objetivo é uma maior proximidade com os cidadãos em prol da transparência eleitoral.

“Se detetar conteúdos suspeitos, publicações enganosas ou publicidade paga nas redes sociais durante o período eleitoral, envie-nos uma mensagem. O seu contributo é essencial para uma campanha mais justa, clara e informada”, apelou.

A frase

"Os democratas-cristãos em Portugal só podem votar no PS. Ainda bem que o Adelino Amaro da Costa e o Diogo (Freitas do Amaral) não estão vivos para ver a desgraça em que o CDS se tornou.”

A surpresa

António Costa Silva

António Costa e Silva, um independente e antigo ministro da Economia do governo socialista de António Costa, veio dar forçar à campanha do PS. O mentor da arquitetura do Plano de Recuperação de Resiliência (PRR) subiu ao palco do Quartel dos Bombeiros Voluntários de Queluz, em Sintra, para enumerar seis razões “vitais” para votar no PS e em Pedro Nuno Santos.

Primeiro começou por destacar que o secretário-geral socialista “é a única pessoa que pode impedir a vitória do candidato“, da AD, Luís Montenegro, que vai “introduzir a motosserra em Portugal“, com a IL. “Isto significa acelerar a destruição do SNS e a sua privatização, acelerar a privatização da Segurança social, da CGD. É colocar o Estado social como um Estado mínimo e isso significa direitos mínimos“, criticou.

Costa e Silva elogiou ainda o trabalho de Pedro Nuno Santos, enquanto ministro das Infraestrutura por “desafiar a inércia da máquina administrativa que penaliza o país“. E lembrou que com o então governante criou uma task force, “construímos uma agenda de 225 mil milhões de euros com o AICEP para lançar vários projetos e muitos deles estão a parar“. Porquê? “Porque não há liderança no atual Governo”, atirou.

E depois questionou, citando Luís Vaz de Camões: “Que liderança querem os portugueses? Um rei fraco torna fraca a forte gente. Por isso, temos de decidir se queremos um líder forte e responsável como Pedro Nuno Santos, comprometido com os problemas de Portugal, com coragem política para enfrentar a inércia política ou um líder, que não diria que é fraco, é fraquíssimo e isso ficou patente quando o país mais precisava”, durante o apagão elétrica.

O antigo ministro considerou que Luís Montenegro, “o líder que quer continuar a ser primeiro-ministro”, comportou-se “como uma barata tonta, sem saber o que dizer e a única mensagem foi para mobilizar os motoristas para enviar combustível“. “Não é com jerricãs que se vão resolver crises”, sinalizou.

Prova dos 9

"Temos uma situação singular. Depois destas eleições, no próximo domingo, durante cerca de um ano, não é possível haver uma dissolução do parlamento. Isso pode fazer com que o país caia num impasse.”

O candidato presidencial Luís Marques Mendes afirmou que a campanha eleitoral para as legislativas não está a ser esclarecedora para os portugueses e revelou ter um entendimento próximo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, quando este disse que pretende dar posse a um executivo que consiga viabilizar o programa de Governo no Parlamento.

Marques Mendes justificou que durante cerca de um ano não é possível haver dissolução da Assembleia da República. É verdade?

De acordo com a Constituição, o Parlamento não pode ser dissolvido nos seis meses posteriores à sua eleição. Quer isto dizer, que o Presidente da República apenas poderia convocar novas eleições em novembro deste ano. Contudo, o chefe de Estado também não pode dissolver a Assembleia da República no último semestre do seu mandato. Com eleições presidenciais marcadas para janeiro de 2026, Marcelo Rebelo de Sousa já não terá respaldo para o fazer, podendo apenas ser decidido pelo próximo Presidente da República.

Conclusão: Correto.

Norte-Sul

Luís Montenegro arrancou o dia em Benavente, numa visita a um arrozal, de onde seguiu para um encontro com agricultores numa sociedade agrícola da mesma cidade. Partiu depois para Torres Novas para um encontro com a Polícia e termina agora o dia nas Caldas da Rainha num jantar-comício.

Não muito longe, em Lisboa, o seu principal opositor, Pedro Nuno Santos começou a manhã na Ajuda, num contacto com a população, almoçou num quartel de bombeiros em Queluz e termina o dia na Aula Magna, onde irá contar com a presença do ex-ministro das Finanças socialista, Fernando Medina, que optou por não integrar as listas do partido.

A capital foi também a localidade escolhida por Inês Sousa Real, que marcou ponto de encontro no Campo Pequeno para uma ação contra os espetáculos tauromáquicos. A poucos quilómetros, mas já a sul do Tejo, Mariana Mortágua abriu o dia numa visita a uma Universidade Sénior, no Seixal, rumando até Lisboa para um encontro com jovens na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH). A caravana bloquista seguiu depois para Braga, onde tem encontro marcado num comício com Francisco Louçã.

Por sua vez, a IL durante a manhã marcou presença em Setúbal, numa visita à Lisnave, mas durante a tarde regressou a Lisboa, para uma ação no Arco do Cego.

Paulo Raimundo também esteve em Lisboa, passando depois por Sintra e irá terminar o dia com um comício em Coimbra. Já a caravana de Rui Tavares marcou presença em Constância, seguindo depois para Aveiro. A Sul do país esteve André Ventura, com o dia dedicado a ações em Tavira.

No 11º dia de campanha, a caravana de Montenegro começa o dia com um contacto com a população em Arcos de Valdevez, parando para almoçar em Vila Verde, antes de seguir viagem até Braga, onde termina o dia com um comício. Ainda a norte, Mariana Mortágua estará em Santa Maria da Feira num encontro com trabalhadores por turnos durante a manhã e em Aveiro à noite, para um comício com Luís Fazenda, cabeça de lista por aquele círculo.

No entanto, será Setúbal que irá receber o maior número de líderes partidários na quarta-feira. A campanha do PS amanhece e anoitece na cidade, com Pedro Nuno Santos a fazer uma visita ao Mercado do Livramento e a fechar o dia num comício. Pelo meio, o almoço será em Almada. Não muito longe, Paulo Raimundo começa o dia em Loures, almoça com estudantes em Lisboa, de onde segue para um desfile em Setúbal.

Por sua vez, o partido de Inês Sousa Real arranca o dia em Faro, de onde parte em viagem até Almada, para uma reunião com o Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta. Por seu lado, o porta-voz do Livre, Rui Tavares, ficará por Lisboa, onde tem prevista uma pedalada.

Já a IL inicia o dia com uma visita ao mercado da vila em Cascais, seguindo para Pombal e terminando o dia em Leiria, onde tem marcado um jantar-comício.