No Dia Internacional da Saúde Feminina, a 28 de maio, como podemos transformar esta efeméride num ponto de viragem real na forma como as mulheres em Portugal cuidam da sua saúde — desde a prevenção e o diagnóstico até ao apoio psicológico e comunitário?
Estes dias são importantes porque colocam os temas na agenda do dia. Contudo, para que cumpram o objetivo para o qual foram criados, é importante que sejam simbólicos por um dia e implementados nos restantes 364 dias do ano. Só assim têm um impacto real e fazem a diferença efetiva na vida e na saúde das mulheres. Para isso, é fundamental que se aposte na prevenção, que se transmita o máximo de informação e conhecimento para que as mulheres façam escolhas conscientes ao longo da sua vida.
Considerando que o cancro da mama afeta cerca de 9 000 mulheres por ano em Portugal, que sinais iniciais — além do autoexame — devem ser observados e com que frequência cada mulher deve discutir estas alterações com o seu médico de família?
Além do autoexame mamário, existem outros sinais de alerta que devem ser cuidadosamente vigiados. Entre eles, destacam-se: alterações no tamanho ou forma da mama, presença de nódulos palpáveis a nível da mama ou axilares (mesmo que indolores), alterações na pele (como vermelhidão, ondulações ou aspeto de “casca de laranja”), retração do mamilo, secreção mamilar (sobretudo se com sangue) e dor persistente localizada.
É importante reforçar que nem todos os sinais indicam necessariamente a presença de cancro, mas qualquer alteração suspeita deve ser avaliada por um profissional de saúde.
A frequência com que uma mulher deve discutir estas alterações com o seu médico de família depende da sua idade, historial pessoal e familiar. De forma geral, recomenda-se que qualquer mulher a partir dos 20 anos esteja atenta ao seu corpo e que, pelo menos uma vez por ano, partilhe com o seu médico de família qualquer alteração detetada ou dúvida relacionada com a sua saúde mamária. A partir dos 40 anos — ou antes, caso haja fatores de risco — o rastreio mamográfico bienal recomendado pelo Programa Nacional de Rastreio do Cancro da Mama torna-se também fundamental.
A vigilância regular e o diálogo aberto com o médico são aliados essenciais na deteção precoce, aumentando significativamente as hipóteses de sucesso no tratamento.
A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) manifesta-se frequentemente por ciclos menstruais irregulares e excesso de hormonas androgénicas. Que outros sintomas menos óbvios — como alterações de humor ou cansaço persistente — devem levar a mulher a pedir uma avaliação hormonal?
Para além dos sintomas mais conhecidos da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), como os ciclos menstruais irregulares, acne persistente, aumento de pelos corporais (hirsutismo) e dificuldade em engravidar, existem sinais menos óbvios que também merecem atenção e podem justificar uma avaliação hormonal. Entre estes sinais destacam-se as alterações de humor, incluindo ansiedade, irritabilidade ou mesmo sintomas depressivos; o cansaço persistente, que ocorre mesmo após um descanso adequado; a dificuldade em perder peso ou o ganho de peso inexplicado, especialmente na zona abdominal; a queda de cabelo ou o enfraquecimento capilar; os distúrbios do sono, como insónias ou sono não reparador; e ainda o desejo sexual diminuído, por vezes relacionado com desequilíbrios hormonais.
Estes sintomas, quando persistentes ou associados a alterações no ciclo menstrual, devem ser valorizados. Muitas vezes, são desvalorizados ou atribuídos ao stress, mas podem refletir alterações hormonais que interferem não só com a saúde reprodutiva, mas também com o bem-estar geral.
É fundamental que qualquer mulher que experiencie estes sinais procure o seu ginecologista. Um diagnóstico precoce permite uma abordagem mais eficaz, ajudando a prevenir complicações a longo prazo, como a resistência à insulina ou o risco aumentado de diabetes tipo 2.
O diagnóstico da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) baseia-se numa combinação de avaliação clínica, exames de imagem e análises laboratoriais.
Em que consistem os principais exames e análises laboratoriais para confirmar o diagnóstico de SOP?
O diagnóstico da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) baseia-se numa combinação de avaliação clínica, exames de imagem e análises laboratoriais. Os critérios mais utilizados para confirmar o diagnóstico são os critérios de Rotterdam, que exigem pelo menos dois dos seguintes três sinais: ciclos menstruais irregulares ou ausência de menstruação, o que indica disfunção ovulatória; presença de quistos nos ovários identificados por ecografia pélvica, geralmente múltiplos pequenos folículos dispostos na periferia do ovário; e sinais clínicos ou laboratoriais de excesso de androgénios, como acne, hirsutismo ou níveis elevados de testosterona.
Entre os exames e análises mais comuns contam-se a ecografia transvaginal ou pélvica, que permite observar a morfologia dos ovários, e as análises hormonais, que incluem a medição da testosterona total e livre, dos níveis de LH e FSH e da sua relação, da prolactina, do TSH para excluir alterações da tiroide, bem como da 17-OH progesterona para descartar outras patologias. Além disso, é importante a avaliação da resistência à insulina através da medição da glicemia, insulina e do índice HOMA-IR, assim como a análise do perfil lipídico e da função hepática, dependendo do quadro clínico apresentado.
Para além da medicação, que mudanças no estilo de vida (alimentação, exercício, sono) se mostram mais eficazes no controlo dos sintomas da SOP?
Para além da medicação, as mudanças no estilo de vida são um pilar essencial no controlo da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), especialmente em casos associados a resistência à insulina ou excesso de peso. Pequenas alterações consistentes podem ter um impacto significativo nos sintomas e na qualidade de vida.
No que diz respeito à alimentação, recomenda-se optar por uma dieta anti-inflamatória e de baixo índice glicémico, rica em legumes, fruta fresca, cereais integrais, leguminosas, frutos secos e gorduras saudáveis, como o azeite e o abacate. É igualmente importante reduzir o consumo de açúcares refinados, bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados, que podem agravar a resistência à insulina. Deve-se dar prioridade a fontes de proteína magra — como peixe, ovos, tofu ou frango — e a hidratos de carbono complexos, assim como fracionar as refeições ao longo do dia para manter os níveis de energia estáveis.
No que toca ao exercício físico, a prática regular de atividade moderada a intensa, como caminhadas rápidas, natação, corrida ou treino de força, pelo menos 150 minutos por semana, ajuda a regular o ciclo menstrual, melhorar a sensibilidade à insulina e promover o bem-estar psicológico. O treino de resistência, como musculação ou pilates, também se tem mostrado eficaz no equilíbrio hormonal.
A qualidade do sono é outro fator determinante. Dormir entre sete a nove horas por noite, com horários regulares, é fundamental, pois o sono insuficiente ou irregular pode agravar desequilíbrios hormonais e aumentar os níveis de stress. Para promover um sono reparador, recomenda-se evitar o uso de ecrãs antes de dormir, reduzir a cafeína ao final do dia e criar um ambiente calmo e escuro no quarto — estratégias simples, mas eficazes.
Por fim, a gestão do stresse desempenha um papel importante. Técnicas como meditação, ioga, respiração consciente ou terapia psicológica podem ajudar a controlar sintomas como ansiedade, irritabilidade ou cansaço persistente, frequentemente associados à SOP.
Estas mudanças não substituem o acompanhamento médico, mas são fundamentais para potenciar os efeitos da medicação e promover um equilíbrio hormonal mais estável. A chave está na consistência e na adaptação das rotinas ao estilo de vida de cada mulher.
A endometriose afeta uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva, mas o atraso até ao diagnóstico pode chegar a oito anos. Que sintomas cíclicos — como dores fortes durante a menstruação ou desconforto ao urinar — devem ser valorizados e anotados num diário de sintomas?
Dados apontam para que a endometriose afete 10% das mulheres em idade reprodutiva e, dessa percentagem, estima-se que 30 a 50% venha a sofrer algum tipo de infertilidade. Trata-se de uma doença inflamatória crónica, que se caracteriza por um crescimento anormal do tecido endometrial fora do útero. A endometriose é muitas vezes subdiagnosticada, sendo um dos principais desafios precisamente a normalização dos sintomas — como as “dores menstruais” — que, quando intensas ou incapacitantes, não devem ser ignorados.
Anotar os sintomas num diário é uma ferramenta útil tanto para a mulher como para os profissionais de saúde, ajudando a identificar padrões e encurtar o caminho até ao diagnóstico.
Entre os sintomas cíclicos que devem ser valorizados e registados incluem-se dores menstruais intensas (dismenorreia) que interferem com a rotina diária e não aliviam com analgésicos comuns; dor pélvica crónica, mesmo fora do período menstrual; dor durante as relações sexuais (dispareunia), especialmente em posições mais profundas; dor ou desconforto ao urinar ou evacuar, sobretudo durante a menstruação; menstruação abundante ou irregular; inchaço abdominal — por vezes descrito como “barriga de grávida” — e alterações intestinais cíclicas, como obstipação ou diarreia; fadiga inexplicável, especialmente nos dias que antecedem a menstruação; e dificuldade em engravidar, que pode ser o primeiro sinal em alguns casos.
Dados apontam para que a endometriose afete 10% das mulheres em idade reprodutiva e, dessa percentagem, estima-se que 30 a 50% venha a sofrer algum tipo de infertilidade.
Como se deve usar o diário de sintomas?
No diário de sintomas deve anotar-se diariamente os níveis de dor (numa escala de 0 a 10), a sua localização, duração e qualquer sintoma gastrointestinal ou urinário. Deve também ser registado o ciclo menstrual, incluindo início, duração e intensidade do fluxo, bem como alterações de humor, energia ou sono. A toma de medicação e a eficácia dos tratamentos utilizados — ou a ausência de alívio — são igualmente dados importantes a registar.
Este diário pode ser mantido num caderno, numa aplicação móvel ou em formato digital, e deve ser partilhado nas consultas médicas. Permite documentar o impacto real da doença e constitui um aliado na obtenção de um diagnóstico mais rápido e preciso.
A dor intensa não deve ser considerada “normal” só por ocorrer durante a menstruação.
Que opções de tratamento existem hoje para a endometriose?
O tratamento da endometriose deve ser sempre personalizado, tendo em conta a gravidade dos sintomas, a localização das lesões, o desejo de engravidar e o impacto da doença no bem-estar físico e emocional da mulher. Hoje, existem diversas opções — hormonais, cirúrgicas e de suporte — que podem ser combinadas para alcançar um controlo eficaz dos sintomas.
No âmbito do tratamento hormonal, o objetivo é suprimir o ciclo menstrual e, com isso, travar o crescimento dos focos de endometriose. Entre as opções mais comuns encontram-se as pílulas combinadas (com estrogénio e progestativo) ou apenas com progestativo, o dispositivo intrauterino (DIU) com libertação hormonal, e as injeções de análogos da GnRH, embora estas últimas tenham um uso mais limitado, pois provocam efeitos de menopausa temporária.
Os principais benefícios deste tipo de tratamento incluem a eficácia na redução da dor, o facto de ser não invasivo e de existirem opções com poucos efeitos secundários. No entanto, também apresenta desvantagens: pode causar efeitos colaterais como alterações de humor, retenção de líquidos ou diminuição da libido; não elimina as lesões existentes; nem todas as mulheres toleram bem a terapêutica hormonal; e não é indicado quando há desejo imediato de engravidar.
Já o tratamento cirúrgico tem como objetivo remover ou destruir os focos de endometriose, libertar aderências e restaurar a anatomia pélvica. A técnica principal é a laparoscopia, uma cirurgia minimamente invasiva que permite tratar a doença e confirmar o diagnóstico. Em alguns casos, pode recorrer-se à cirurgia robótica assistida — uma tecnologia avançada que permite ao cirurgião operar com maior precisão, flexibilidade e visualização tridimensional, sendo especialmente útil em casos de endometriose profunda ou com envolvimento de órgãos delicados, como a bexiga ou o intestino. Os benefícios desta abordagem incluem a possibilidade de proporcionar alívio significativo e duradouro da dor, a melhoria da fertilidade em alguns casos, e a remoção de lesões profundas que não respondem à terapêutica médica. Contudo, trata-se de um procedimento invasivo com riscos associados (ainda que baixos), há possibilidade de recidiva dos sintomas, e pode ser necessário mais do que uma cirurgia ao longo da vida.
Para além dos tratamentos médicos, existem ainda terapias de suporte que podem complementar a abordagem clínica. Estas incluem fisioterapia pélvica, psicoterapia ou apoio emocional, nutrição funcional com base numa dieta anti-inflamatória, acupunctura e técnicas de relaxamento. Estas terapias promovem o bem-estar global, ajudam a lidar com o impacto físico e emocional da doença e complementam eficazmente os tratamentos convencionais. No entanto, requerem compromisso e continuidade, e nem sempre estão acessíveis nos cuidados de saúde públicos.
Como decidir a melhor abordagem?
Decidir a melhor abordagem depende de múltiplos fatores. Cada mulher é diferente — e o tratamento ideal deve respeitar a sua história, objetivos e qualidade de vida. Uma decisão partilhada com o médico, baseada em informação clara e atualizada, é essencial. Avaliar os riscos e benefícios, fazer perguntas, partilhar expectativas e manter um acompanhamento regular são passos fundamentais para viver melhor com a endometriose.
Na transição para a menopausa, que diferenças há entre sintomas naturais (irregularidade dos ciclos, afrontamentos) e sinais que podem indicar doenças associadas (osteoporose, distúrbios cardiovasculares)?
A transição para a menopausa — chamada perimenopausa — é um período natural na vida da mulher, mas pode levantar dúvidas importantes sobre o que é esperado e o que pode sinalizar uma doença. Saber distinguir os sintomas típicos da menopausa de sinais de possíveis problemas de saúde associados é essencial para garantir um envelhecimento saudável e com qualidade de vida.
Os sintomas naturais da transição para a menopausa decorrem das flutuações e da queda progressiva dos estrogénios e são, em grande parte, considerados normais. Entre os mais frequentes encontram-se a irregularidade dos ciclos menstruais, que se tornam mais espaçados ou imprevisíveis; os afrontamentos (ondas de calor) e os suores noturnos; as alterações de humor, como ansiedade, irritabilidade ou uma maior sensibilidade emocional; as perturbações do sono; a secura vaginal e o consequente desconforto nas relações sexuais; bem como alguma dificuldade de concentração ou lapsos de memória ligeiros. Estes sintomas podem ser incómodos, mas geralmente não indicam qualquer doença e tendem a estabilizar após a menopausa, definida como 12 meses consecutivos sem menstruação.
Contudo, durante esta fase, o risco de certas doenças aumenta, muitas vezes de forma silenciosa, e alguns sinais devem ser valorizados, pois podem indicar problemas como osteoporose ou doença cardiovascular — duas das principais preocupações no período pós-menopausa. No caso da osteoporose ou fragilidade óssea, os sinais de alerta incluem perda de altura visível ou postura curvada, dores ósseas ou fraturas após traumas ligeiros (como quedas da própria altura), histórico familiar de osteoporose, sedentarismo, dieta pobre em cálcio e vitamina D, ou uso prolongado de corticoides. Já os sinais de risco cardiovascular incluem palpitações frequentes, falta de ar ao esforço ou dores no peito, alterações súbitas na pressão arterial ou colesterol elevado, ganho de peso abdominal sem causa aparente, bem como cansaço persistente ou intolerância ao esforço físico.
Perante este cenário, é essencial manter um acompanhamento regular com o ginecologista. Este acompanhamento pode incluir a avaliação do risco cardiovascular e osteoarticular, a realização de exames de sangue, densitometria óssea ou ecocardiograma, conforme indicado, e a discussão sobre terapias hormonais ou não hormonais para alívio dos sintomas. Paralelamente, é fundamental promover um estilo de vida saudável, que integre uma alimentação equilibrada, a prática regular de exercício físico, o controlo do stress e um sono de qualidade.
A menopausa não é uma doença, mas sim uma etapa de transição — e pode ser vivida com bem-estar se acompanhada com atenção, informação e cuidado preventivo.
A transição para a menopausa — chamada perimenopausa — é um período natural na vida da mulher, mas pode levantar dúvidas importantes sobre o que é esperado e o que pode sinalizar uma doença.
Que marcadores de saúde — como densidade óssea, perfil lipídico e níveis hormonais — devem ser avaliados regularmente a partir dos 45 anos, e com que periodicidade?
A partir dos 45 anos, o corpo feminino entra numa fase de transição marcada por alterações hormonais, metabólicas e ósseas. É, por isso, uma altura-chave para intensificar a vigilância de certos marcadores de saúde, mesmo que não existam sintomas. A deteção precoce de alterações permite adotar medidas preventivas que reduzem significativamente o risco de doenças cardiovasculares, osteoporose e outras condições associadas à menopausa.
Existem vários marcadores de saúde que devem ser monitorizados regularmente a partir dos 45 anos, especialmente em mulheres, devido às alterações fisiológicas e hormonais que ocorrem nesta fase da vida. Entre os principais destaca-se a densidade óssea, avaliada através da densitometria óssea. Este exame permite avaliar o risco de osteoporose e fraturas e deve ser realizado a partir dos 50 anos, ou mais cedo (aos 45) se existirem fatores de risco como menopausa precoce, histórico familiar, sedentarismo, tabagismo, baixo índice de massa corporal (IMC) ou uso prolongado de corticoides. A sua repetição deve ocorrer a cada 2 a 5 anos, dependendo do resultado inicial e do risco individual.
Outro marcador importante é o perfil lipídico, que inclui a medição do colesterol total, LDL, HDL e triglicerídeos. Esta avaliação é fundamental para determinar o risco cardiovascular, o qual aumenta após a menopausa devido à queda dos estrogénios. A vigilância deve iniciar-se a partir dos 45 anos, ou mais cedo em caso de histórico familiar ou outros fatores de risco, sendo recomendável repetir anualmente ou conforme orientação médica, caso haja alterações.
Também a glicemia em jejum e a hemoglobina glicada devem ser vigiadas, uma vez que permitem a deteção precoce de pré-diabetes ou diabetes tipo 2. A partir dos 45 anos, especialmente em mulheres com excesso de peso, sedentarismo ou histórico familiar da doença, estes parâmetros devem ser avaliados com uma frequência de um a três anos.
A função tiroideia, avaliada através dos níveis de TSH e T4 livre, é outro aspeto a ter em conta, dado que os problemas da tiroide — como o hipotiroidismo — são mais frequentes em mulheres após os 45 anos. A primeira avaliação deve ocorrer entre os 45 e os 50 anos, ou antes se existirem sintomas como fadiga, alterações de peso ou irregularidades menstruais. A repetição dependerá dos resultados e da presença de sintomas, sendo geralmente feita a cada um a três anos.
Os níveis hormonais sexuais, nomeadamente FSH, LH, estradiol e progesterona, ajudam a compreender a transição para a menopausa e podem ser úteis para explicar sintomas como ciclos irregulares, afrontamentos ou alterações de humor. A sua medição deve ser considerada quando há suspeita de perimenopausa ou menopausa precoce, embora não seja necessário repetir estes exames com frequência, exceto em contextos clínicos específicos.
Por fim, é fundamental monitorizar a pressão arterial e o índice de massa corporal (IMC), dois marcadores-chave no risco cardiovascular e metabólico. Devem ser avaliados em todas as consultas de rotina a partir dos 45 anos.
Aos 45 anos, não se trata apenas de tratar sintomas — é tempo de apostar na prevenção. Um plano de vigilância adaptado, feito em conjunto com o médico de família ou ginecologista, é essencial para garantir um envelhecimento saudável, ativo e informado
O líquen escleroso vulvar apresenta sintomas muitas vezes discretos, como prurido persistente e pele mais clara. Como podem as mulheres distinguir estes sinais de simples irritações e quando devem fotografar ou anotar alterações para mostrar ao especialista?
O líquen escleroso vulvar pode manifestar-se de forma subtil, com sintomas como prurido persistente e alteração da cor da pele, que pode ficar mais clara. Para as mulheres, pode ser difícil distinguir estes sinais de irritações comuns. No entanto, se o prurido não desaparecer com cuidados básicos de higiene, se notar alterações na textura ou cor da pele, ou se surgirem fissuras, dores ou desconforto ao urinar ou durante as relações sexuais, é importante estar atenta. Nestes casos, é recomendável tirar fotografias regulares das áreas afetadas ou anotar as alterações observadas para apresentar ao especialista numa consulta. Isto ajuda a monitorizar a evolução e a obter um diagnóstico mais rápido e preciso.
Que percursos de tratamento tópico ou sistémico estão disponíveis para o líquen escleroso, e que cuidados de higiene e vestuário podem reduzir a sintomatologia diária?
Como ginecologista na MS Medical Institutes, gostaria de realçar que o tratamento do líquen escleroso vulvar deve ser individualizado, combinando abordagens tópicas e, quando necessário, sistémicas. O tratamento tópico baseia-se habitualmente em corticosteroides potentes, sempre que exista um momento de crise, que ajudam a reduzir a inflamação e o prurido. Contudo, além destes, temos vindo a apostar cada vez mais em terapias regenerativas, que promovem a reparação da pele e o restabelecimento da sua funcionalidade, oferecendo uma alternativa ou complemento aos tratamentos tradicionais.
No que respeita aos cuidados diários, é fundamental manter uma higiene suave, utilizando produtos sem perfume e específicos para a zona íntima, evitando lavagens vaginais agressivas. O vestuário não deve ser apertado, preferencialmente de algodão, para permitir a respiração da pele e evitar o contacto com tecidos sintéticos que podem agravar a irritação.
Na MS Medical Institutes, dispomos de tecnologias avançadas para tratamentos regenerativos, como a terapia com plasma rico em plaquetas (PRP), radiofrequência, laser e outros métodos que estimulam a regeneração dos tecidos, ajudando a melhorar os sintomas e a qualidade de vida das pacientes.
Recomendo que todas as mulheres com sintomas persistentes procurem avaliação especializada para que possamos definir o melhor plano de tratamento personalizado.
O líquen escleroso vulvar pode manifestar-se de forma subtil, com sintomas como prurido persistente e alteração da cor da pele, que pode ficar mais clara.
Que conselhos práticos daria a cada leitora para incorporar, na sua rotina, hábitos de autocuidado que estimulem a deteção precoce (autoexame, consulta anual) e promovam o bem-estar integral?
Primeiro, acredito que tudo passa pela prevenção. Infelizmente, a vida hoje é tão cheia, tão acelerada que não há tempo para pararmos, para pensarmos, anteciparmos e prevenirmos aquilo que ainda é possível fazer. Claro que não há receitas milagrosas que evitem o aparecimento de doenças, contudo, se apostarmos na prevenção com consultas e exames regulares e se mantivermos um estilo de vida saudável, vamos estar mais atentos a eventuais sinais de alerta. Além disso, quanto mais cedo detetarmos os sinais e atuarmos, maior a probabilidade de sucesso.
Posto isto, e partindo do princípio da prevenção, o meu conselho é que cada uma de nós cuide de si, tal como cuida dos outros, sobretudo dos filhos. Que se priorize, que se valorize, porque de nada vale cuidarmos bem dos outros, se depois não estivermos cá, com saúde, para os acompanhar na sua jornada. Porque não criar uma rotina nossa de autocuidado. Tal como levamos os nossos filhos às consultas anuais, também devemos ter a nossa própria rotina. Ter um check up anual, sempre no início do ano, por exemplo, ou no mês de aniversário, porque assim não há desculpas para nos perdermos no tempo. Criar rotinas realistas, com, por exemplo, três dias de exercício por semana, criar hábitos simples e saudáveis, como beber 1litro e meio de água por dia, privilegiar legumes e frutas na alimentação, tirar todas as semanas algumas horas para nós, para fazer algo por nós. Pequenos gestos, que fazemos diariamente pelos outros e que deixamos de fazer por nós. E acreditem que priorizarmo-nos não é egoísmo, é um ato de amor para connosco e para com os que nos rodeiam.