Deco defende queda do ICMS do gás de botijão para acabar com disparidade de mercado

Elisabete Policarpo, jurista do Gabinete de Protecção Financeira, explicou à agência Lusa que a redução do IVA no gás natural engarrafado é semelhante às medidas adoptadas para a electricidade e o gás natural desde 2019 e reforçadas este ano, "será um factor muito importante na unificar preços”. Da Déco.

“Não podemos esquecer que o gás não é um serviço que cobre todo o território nacional. Ao criar uma diferença entre os serviços de gás e de gás engarrafado, quem tem gás sairá beneficiado”, alertou.

A Lusa contactou o governo para perguntar se planeia avançar com a reforma legislativa nesta área, mas só respondeu depois da publicação da notícia.

A redução do imposto sobre o valor acrescentado em algumas faturas e gás natural de baixa qualidade e eletricidade de 23% para 6% foi implementada em 2019. Em junho, foi aprovado o projeto do PS para ampliar o âmbito da redução da tarifa de eletricidade. 200 quilowatts-hora (kWh) de eletricidade consumida por mês eram os 100 kWh anteriores, o dobro dos atuais 150 kWh, e para uma família grande, o consumo mensal de eletricidade seria o dobro dos atuais 150 kWh, para 300 kWh.

A medida, que entra em vigor este ano, alarga o âmbito da redução do IVA de 300 mil famílias para mais de 3 milhões de famílias, com um custo estimado em cerca de 90 milhões de euros.

Fontes oficiais da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) confirmaram à Lusa que “em Portugal o mercado de gás liquefeito de petróleo (GPL) engarrafado é muito importante, especialmente nas zonas onde o gás natural não está disponível”.

Segundo os últimos dados de 2021, o mercado abrange cerca de 2,2 milhões de lares e satisfaz as necessidades de cerca de 5 milhões de pessoas, principalmente em zonas não cobertas pela rede de gás natural. O último serviço contava no final do ano passado com cerca de 1,2 milhões de clientes nos mercados liberalizados e perto de 500 mil nos mercados regulamentados.

Para o gás de botijão, está em andamento o programa Bilha Solidária, que prevê o pagamento mensal de R$ 10 por botijão aos domicílios beneficiários da tarifa social. Mas, ao contrário da electricidade e do gás natural, este desconto não se aplica automaticamente. Aliás, a Deco destacou que a burocracia e a falta de informação são os principais obstáculos para obter melhores resultados do mecanismo.

“Foi uma tentativa de dar algum apoio, mas foi ineficaz porque não havia informação. A maioria das famílias não sabia que o programa (existia) ou, se soubessem, pensavam que estava encerrado”, comentou o advogado.

Além disso, “não existe um apoio automático, ou seja, o consumidor deve primeiro adquirir a botija antes de receber o valor. Isto é um pouco complicado para as famílias carenciadas”, lamentou Elisabete Policarpo.

Neste sentido, a Deco defendeu a introdução de tarifas sociais de aplicação automática para evitar que os consumidores tenham de se deslocar às juntas de freguesia para obterem apoios.

Desde o seu lançamento, em 2022, o mecanismo Bilha Solidária utilizou 60% do orçamento previsto de 3,5 milhões de euros, segundo dados fornecidos à Lusa pelo Ministério do Ambiente e Energia.