Crianças famintas e brutalidade policial em Angola preocupam Human Rights Watch

Em documentos obtidos pela Lusa, as organizações não-governamentais (ONG) de defesa dos direitos humanos sublinham que as crianças continuam a ser as principais vítimas da seca e das crises alimentares, com 38% das crianças angolanas a sofrer de desnutrição crónica.

Em Maio do ano passado, pelo menos 1,5 milhões de pessoas no sul de Angola, incluindo milhares de crianças de famílias de baixos rendimentos, enfrentavam grave insegurança alimentar e pelo menos 22 crianças tinham morrido de subnutrição grave.

O relatório cita vários exemplos da situação das crianças, incluindo o repatriamento de dezenas de menores da Namíbia que tentavam escapar aos efeitos da seca nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe e atravessavam a fronteira em busca de trabalho e comida.

Em Maio, as autoridades sanitárias anunciaram uma investigação sobre a morte de mais de 30 crianças em Luanda que sofreram febres e dores de estômago depois de beberem água turva e amarelada, mas não tiveram resultados até Novembro.

A ONG referiu ainda que no orçamento geral nacional de 2024, o governo angolano irá reduzir em 50% o apoio financeiro à linha de apoio SOS Criança, a única linha direta nacional para denúncia de casos de violência, abuso ou negligência.

A Human Rights Watch também criticou a lei assinada pelo Presidente João Lourenço como inconsistente com os direitos humanos internacionais e restringindo as liberdades de imprensa, expressão e associação.

Entre elas, a mais destacada é a Lei do Vandalismo, que estipula que quem participa de manifestações e causa vandalismo pode ser condenado a até 25 anos de prisão, enquanto a Lei de Segurança Nacional permite ao governo interromper transmissões de rádio ou fornecer telecomunicações "sob circunstâncias especiais" Serviços, sem necessidade de ordem judicial.

Ao longo do último ano, agentes da polícia foram associados a assassinatos, violência sexual, uso excessivo da força, detenções arbitrárias e tortura por parte de activistas e manifestantes angolanos.

A Human Rights Watch citou exemplos como o uso de munições reais para dispersar manifestações na província da Lunda Norte em Março, queixas de vendedores ambulantes sobre abusos policiais e seis casos de cidadãos que foram torturados para extrair confissões.

A sobrelotação nas prisões angolanas é outro destaque do relatório da Human Rights Watch.

As 43 prisões do país podem acomodar 22.554 reclusos, mas a população carcerária é de 24.068, metade dos quais estão em prisão preventiva ou aguardando julgamento.