Bota de Ouro, desaguisado com o Vitória e a crença no título: tudo o que disse Rui Borges

Treinador do Sporting fez a antevisão ao derradeiro jogo da Liga, frente ao V. Guimarães, a equipa que treinava antes de se mudar para Alvalade

– O que vai transmitir aos adeptos na entrada para a última jornada? A pouco mais de 24 horas do jogo como está o seu coração?

– O coração está um bocadinho ansioso por que chegue o jogo, não pelo que o jogo vai trazer, mas por que chegue. Se dissesse que não estava ansioso estava a mentir, mas acho que faz parte, temos é de saber lidar da melhor forma com essa ansiedade e saber transformá-la em energia boa. Em relação aos adeptos é pedir-lhes que se mantenham iguais a si próprios, desde que chegámos têm sido incriveis, o apoio tem sido maravilhoso, não há palavras para descrever tudo aquilo que eles nos têm dado ao longo deste tempo. Tudo aquilo que têm feito, tudo aquilo que nos têm ajudado. Acredito muito que merecem, também, e merecem muito, serem bicampeões e esse é o grande objetivo do jogo. Amanhã serão muito importantes naquilo que será um objetivo para todos, o concretizar do nosso grande objetivo.

– A semana ficou marcada pelas suas declarações no final do último jogo, que gerou resposta por parte do V. Guimarães. Teme que o adversário entre mais espicaçado devido a isso?

– As pessoas levam sempre para o lado que quiserem. Antes dessas palavras a que deram tanto ênfase, falei muito e bem de toda a estrutura do Vitória, de todos os jogadores, de toda a equipa técnica atual. Por isso, estou completamente desligado disso, que foi ruído. Apenas ruído. Percebam onde estou, o que me leva a ser treinador do Sporting, estar prestes de conseguirmos um grande objectivo. Percebem aquilo que sou enquanto pessoa, enquanto treinador, o que me trouxe aqui. Tenho muito a agradecer também ao grupo do Vitória, jogadores e staff, porque se estou aqui no Sporting hoje, também lhe devo a eles, pela capacidade que tiveram de fazer coisas boas com aquilo que era a nossa liderança. Por isso, devo-lhes muito. Tenho uma amizade muito grande por todos eles. Jamais poria em causa o seu profissionalismo, quer seja de um jogador do Vitória, quer seja de outros jogadores. E volto a falar daquilo que foi o meu trajeto. Vocês têm ido à procura de antigos jogadores e eles respondem por mim. Aquilo que sou enquanto líder, enquanto treinador, por isso, estou super tranquilo nesse sentido, foi apenas e só ruído. Muito focado naquilo que temos de fazer para enfrentar uma grande equipa que está do outro lado. Conheço-os bem em termos coletivos e individuais e sei muito bem aquilo que podem dar ao jogo, aquilo que eles vão ser capazes. Precisam, têm um objetivo também, enquanto clube, e já vão entrar super concentrados, super focados, super motivados e é isso que eu estou focado, focado em perceber o que é que eles poderão ou não criar-nos dificuldades e estarmos preparados para elas, para essas dificuldades. E sermos capazes também de aproveitar algumas coisas em relação à equipa do Vitória, mas nunca esquecendo que do outro lado está uma grande equipa, coletivamente e individualmente.

– Quando chegou ao Sporting conseguiu ter seis pontos de avanço em relação ao segundo classificado, mas acabou por perdê-los. Arrepende-se de alguma coisa?

– Sobre os pontos perdidos, esqueçam, não lamento nada. O nosso trajeto fala por nós. Por tudo que fomos capazes ao longo do tempo, este grupo acredita que merece muito pela capacidade que teve ao longo deste tempo de ser campeão. É isso que nos foca, é isso que nos mantém super concentrados, super focados naquilo que é o nosso único objetivo, que foi sempre, perante todas as dificuldades que nos apareceram ao longo do tempo, o grupo foi incrível, deu uma resposta fantástica, teve essa capacidade e por ter dado essa capacidade ao longo de todo este caminho, independentemente de não ganharmos sempre - mas digam-me um treinador que ganha os jogos todos -, teve essa capacidade e, por isso, por ter essa capacidade mesmo, acredito muito e eles acreditam muito que merecem ser campeões.

Gyokeres cumpriu 100 jogos pelo Sporting e tem-se falado muito do interesse do Arsenal. Estando envolvido na luta pela Bota de Ouro isso pode jogar a favor do Sporting ou a pressão pode levar a equipa a querer jogar mais para ele?

– Acima de tudo vejo-o focado em ajudar a equipa, focado em ser campeão, que é isso que ele quer, é isso que a equipa quer, é isso que todos, enquanto grupo, querem. Por isso, digo que é um grande grupo e vou dizer-lhe sempre, independentemente de tudo, é um grande grupo, porque não existem egos, por muito que se fale do Viktor, por tudo o que ele tem dado à equipa, por todo o seu peso ao longo da época para aquilo que a equipa também tem conseguido, o grupo está focado apenas e só num objetivo, o objetivo é o de todos, depois, se o Viktor conseguir a Bota de Ouro ficaremos todos felizes, o grupo ficará feliz, ficaremos todos muito felizes se ele conseguir esses outros objetivos individuais, mas está muito mais focado naquilo que é o objetivo coletivo e tenho a certeza que amanhã fará um grande jogo.

Morita está em condições de fazer os 90 minutos?

– O Morita está preparado para o jogo. Dará resposta o tempo que der, se der para 90, ótimo, se não der jogará outro jogador que dará resposta tão boa para ajudar a equipa.

– Dizem os populares que não se devem largar os foguetes antes da festa, mas os adeptos do Sporting fizeram-no depois do empate no dérbi na chegada da equipa a Alvalade. Sente excesso de confiança? Desagradou-o um pouco essa receção efusiva?

– Não desagradou e tive a oportunidade de falar nisso no final do jogo. É natural a alegria dos adeptos, mas é uma alegria no sentido que íamos jogar a decisão em nossa casa, vamos jogar a decisão em nossa casa, perante os nossos adeptos e eles sentem que serão importantes, sentiram que serão uma grande força também para conseguirmos levar de vencido o Vitória, por isso a euforia dos adeptos percebe-se, para aquilo que é a equipa, eles sabem bem que não ganhámos absolutamente nada, temos 90 minutos ou 100 minutos para jogar amanhã, que o jogo que vai decidir isso. Temos de estar é cientes de que temos de continuar a ser capazes de dar resposta, capazes de ultrapassar uma grande equipa que está do outro lado. Como disse, para conseguirmos o objetivo que é sermos campeões, temos de ganhar. E o que é que temos de fazer para ganhar? Estarmos focados e a equipa está completamente focada nesse aspecto.

– Hjulmand é baixa para este jogo, está castigado. Qual é o peso da ausência do capitão, depois de termos visto algumas dificuldades da equipa diante do Gil Vicente antes dele entrar em campo?

– Percebo isso, vocês falarem do Gil, mas são jogos totalmente diferentes, equipas diferentes, dão coisas diferentes defensivamente, ofensivamente, claramente que é um jogador importante, é um jogador que tem peso, por ser o nosso líder, por ser o líder do grupo dentro de campo, é o nosso capitão, tem peso, claro que tem, e não fugimos dele, agora a equipa tem sido capaz de responder, seja com a ausência do Morten, seja com a ausência do Viktor, seja com a ausência do Morita, a equipa foi capaz de dar sempre resposta, porque o espírito coletivo é muito grande, o compromisso é muito grande, a crença é muito grande, a coragem, a ambição é infinita neste grupo.

– Tem-se notado, sobretudo nos últimos jogos, que o Sporting, quando marca cedo, depois parece adormecer um pouco em cima dessa vantagem. Admite alterar a estratégia para amanhã?

– Quero ganhar. É isso que quero, ganhar. Em termos de estratégia, já falei mais de uma vez que a estratégia é relativa. Percebo que vocês falam, às vezes, que a equipa está com um bloco mais baixo, indiretamente às vezes o adversário consegue, tem de se dar mérito também a quem está do outro lado, são boas equipas, têm essa capacidade em alguns momentos de nos empurrar para trás. Acima de tudo sinto que, por vezes a equipa está mais confortável, e a própria equipa, indiretamente lá, no momento, acha que está bem assim e está confortável. Pegando em estatísticas, somos a equipa que menos situações de golo permite ao adversário, são dados. Acima de tudo a equipa está confortável, está preparada para estar em que momento for, em que espaço for, agora, há momentos do adversário, a parte indireta, às vezes, mental dos nossos jogadores leva a que se agarre um bocadinho mais ao resultado, faz parte. Há coisas que, às vezes, o treinador não consegue, por mais que queira, e em grandes estádios como o nosso, às vezes queremos corrigir mas é difícil passar a informação. Então, temos a semana, o início, às vezes o intervalo para ajustar uma ou outra coisa, mas há coisas que é muito leituras próprias do grupo, dentro de um coletivo, dentro de uma ideia de jogo, como é lógico. Tomadas as decisões coletivas, acima de tudo, a equipa tem sido capaz de dar resposta.

Morita parece ser a escolha mais óbvia para o meio-campo, mas como está o jogador fisicamente?

– O Morita está preparado para jogar, independentemente de ser titular ou não. Tem tido alguns problemas, mas isso não é só o Morita, ao longo da época temos tido alguns problemas. Foi também, um bocadinho, essa a nossa luta, em alguns momentos, mas, acima de tudo, vejo-o é focado e preparado para jogar e ajudar a equipa seja o tempo que for em campo. Pode jogar Morita, pode jogar o Pote, pode haver outras situações também para jogar no miolo do terreno. Acima de tudo, olho para a equipa e vejo-a capaz de dar resposta. Há tivemos quase ausência de todos, menos do Trincão, vá lá que a lesão foi na mão e deu para jogar (risos). A equipa foi capaz de dar resposta, umas vezes melhor outras não tão bom, mas fomos competitivos em alguns momentos e lá está a tal frase que a malta agarrou e bem: 'Quando faltar a inspiração que não falte a atitude' e jamais isso será apontado à equipa.

– Ainda há dois anos estava a treinar o Mafra na Liga 2. Como é que é assimilar esta situação em que está a um passo de ser campeão nacional. Como se gere esta ansiedade? Que mensagem passa aos jogadores antes de um jogo tão decisivo?

– A mensagem tem sido de equilíbrio emocional, tentar manter a equipa focada, tranquila também, porque acredito que individualmente também a tal ansiedade existe em todos, um bocadinho. É mais um jogo, é certo que é o último e tem um peso enorme, mas temos de ser capazes de lidar com isso. E o nosso trabalho enquanto equipa técnica, ao longo da semana, tem sido também um bocadinho esse, ajudar a lidar um pouco com a ansiedade, mantê-los tranquilos naquilo que é relativizar algumas coisas e não dar importância em demasia só a este jogo, que tem a mesma importância que todos os outros, para estarmos aqui a disputar para sermos campeões é porque tivemos de ficar focados nos outros jogos. É a mesma energia, é o mesmo foco, é o mesmo rigor, é mais um jogo, é é o último. Portanto, leva-nos a ser aquilo que nós tanto lutámos, tanto fomos capazes de trabalhar para chegar ao momento e conseguirmos ser campeões.

– Sente que há vantagem de o V. Guimarães o conhecer bem a si ou vice-versa?

– Não. São duas grandes equipas, estão com um treinador novo, por mais que até a ideia tenha a grande base daquilo que vinha atrás, mas não leva vantagem. Em relação à gratidão, tenho muita, a toda a estrutura dia do Vitória, aos jogadores, tem grandes jogadores, admiro-os muito, deram-me muito, já disse isso, e não vou esquecê-los nesse sentido. O que representa para mim ganhar amanhã? É ser campeão nacional, só e apenas, fosse o Vitória ou outra equipa, quero é ganhar. Tem o mesmo peso, vou ter um carinho por toda a minha vida por aquilo que o Vitória me deu, assim como ao Moreirense e a todos os clubes que tenho para trás. A gratidão é exatamente a mesma e vim de um berço em que me educaram a dar valor a tudo e se há coisa que não sou é ingrato, não sou. Sou muito grato a toda a gente que passou no meu caminho e que me ajudou, muito grato mesmo, a todos. É mais um jogo, quero ganhar, ponto, é uma ex-equipa, é certo, tenho um carinho enorme por todos os jogadores.

– Começou por dizer que estava um pouco ansioso, teme passar esse sentimento para os jogadores? Já pensou no que lhes vai dizer nos minutos antes da equipa entrar em campo?

– Sou um treinador limpo, não levo nada trabalhado nem pensado. Digo o que sinto no momento. Em algum momento vem-me uma palavra ou outra à cabeça e ando à volta disso, é uma coisa muito do momento. É o que sinto. Em relação à equipa, sinto-a exatamente igual às outras semanas. Acredito que haja sempre um bocadinho de ansiedade, mas não o mostraram durante a semana de trabalho. Espero que estejam a lidar bem com isso e que amanhã também seja assim. O jogo vai criar um bocadinho dessa ansiedade, é normal. Mas é em nós, no Vitória, no SC Braga, no Benfica... Temos de ser capazes de transformar isso em energia boa para podermos ultrapassar o adversário.

– Está a 90 minutos de poder fazer história no Sporting, ao conquistar algo que foge de Alvalade há mais de sete décadas. Sendo um homem bastante crente, como já várias vezes frisou, fez alguma promessa se for campeão?

– Sou muito crente, já o disse aqui, sou crente a Nossa Senhora de Fátima apenas e só. Peço que dê muita força e capacidade aos meus atletas e também a mim, naquilo que é capacidade para tomar decisões. Depois é um jogo de futebol, é apenas um jogo de futebol e temos de desfrutá-lo como tal. Há três resultados possíveis, queremos sempre ganhar, mas do outro lado está uma equipa que também vai querer ganhar, é o que é. A crença será sempre a mesma e muita, mas apenas e só isso.

– O cenário ideal para si era Sporting e Vitória conseguirem os seus objetivos, mesmo se isso significar um empate?

– Não, quero ganhar. Agora, se me perguntarem, claro que gostava que a vitória conseguisse também o seu objetivo, porque é um clube que merece, os seus adeptos também merecem, é um clube diferente e quem trabalha lá percebe que é claramente um clube diferente. Agora, amanhã estou focado apenas naquilo que é o nosso objetivo e para conseguir o nosso objetivo temos que ganhar, por isso, é esse o único objetivo. O carinho permanecerá sempre por aquilo que será a minha vida em relação ao que será o Vitória e qualquer equipa que tive a oportunidade de trabalhar.