azotoRibeira do Porto, cartão postal da cidade, Giovani Moura fica em uma esplanada vazia, mero reflexo da entressafra.
Há quatro anos que se apresenta nas ruas de uma cidade onde “os artistas fazem parte da cultura” e tem encontrado no Porto muitas pessoas que respeitam e admiram a arte que cria. Ele garantiu que o respeito era mútuo com os moradores e empresários que o ouviam todos os dias.
“Os moradores precisam de dormir e descansar, por isso não é justo fazer barulho o tempo todo. Tenho muito respeito por eles e a forma como jogo é gentil”, disse à Lusa.
Quanto à regulamentação, em vigor há pouco mais de um mês, não há dúvida de que “agrega mais valor aos artistas de rua” e ao mesmo tempo “traz qualidade de vida aos moradores e comerciantes”.
Giovanni é um dos muitos artistas que solicitou licença para continuar se apresentando nas ruas da cidade e, como muitos outros, aguarda que lhe peçam para testar e certificar os amplificadores que utiliza.
A poucos metros de Giovanni, Junior Alves e Ítalo Tale se preparavam para iniciar seus discursos. Junior tocava bateria e Ítalo o acompanhava no saxofone.
Encontraram “paraíso” e “liberdade” para expressar a sua arte nas ruas do Porto. E, embora vejam o “lado bom” das regras, temem que as novas regras possam colocar em risco a qualidade do seu desempenho.
Hoje, o Porto Ribeira é um local tranquilo, mas não demorará muito, dentro de alguns meses, ficará superlotado de turistas e transeuntes.
“No verão, só o nível sonoro das pessoas que nos rodeiam ultrapassa os 75 decibéis”, afirmou Júnior, que lamenta que as novas regras não tenham em conta a realidade dos artistas.
“Somos a favor da regulamentação, mas queremos que todos possam realizar o seu trabalho com qualidade. O estranho é que os músicos de rua são músicos de grande qualidade”, acrescentou Ítalo.
Ao contrário da Ribeira, a Rua de Santa Catarina, considerada palco de muitos artistas, é aqui mais tranquila. Arlindo Maciel foi o único a afinar as cordas do violão à tarde.
Arlindo, que joga no Porto há mais de dois anos, não tem dúvidas: “Há necessidade de fazer regras”, embora acredite que algumas regras não correspondem à realidade da rua como palco.
Ao contrário de Giovanni, Junior, Ítalo e Arlindo, Patrícia Pereira conhece bem essas andanças. Já jogava nas ruas do Porto há mais de uma década, mas quando começou a jogar a realidade era outra. São poucos artistas e todos trabalham acusticamente.
“Há cinco anos houve um ‘boom’ no uso excessivo de amplificadores, e na minha opinião o grande problema que surgiu não é o uso de amplificadores, mas sim o volume de cada artista que precisa utilizá-los. ", confessou à Lusa.
Patrícia vem de São João da Madeira ao Porto quase todos os dias com o seu acordeão. Ao contrário de outros músicos, prefere tocar em ruas menos movimentadas, como a Rua de Cedofeita.
“O negócio de trabalhar nas ruas não é apenas ganhar dinheiro. Se eu não for trabalhar por uma semana, as pessoas me perguntam se estou doente e dizem que as ruas ficam sem vida quando não estou por perto. também são opiniões que nos dão força”, garantiu.
Quanto às novas regras, Patrícia reconhece algumas falhas, como a falta de audições que permitam ver o trabalho de um artista, mas também reconhece as suas vantagens, como a rotatividade de espaços.
“Acho que seria ótimo ter algumas medidas em vigor para acelerar a possibilidade de todos os artistas poderem trabalhar com distância adequada em todas as ruas”, disse ele também que acredita que faria sentido fazer intervalos entre as apresentações. , principalmente porque “as ruas também precisam ficar tranquilas”.
A autarquia disse à agência Lusa que até quinta-feira os serviços municipais receberam 86 pedidos de obtenção de licenças, ou 912 pedidos.
Dos 86 pedidos, 84 seguem “procedimentos normais” e a cidade aguarda o pagamento de dois deles para emissão das licenças.
No entanto, 15 casos de utilização confirmada de amplificadores serão avaliados pelo Noise Management Office.
Até ao momento, foram avaliados 13 casos, sendo sete negados e seis aprovados, embora alguns pedidos aprovados tenham sido “objetos de múltiplas avaliações de novos equipamentos”.
Para artistas cujos equipamentos foram rejeitados, a cidade está entrando em contato para saber se o artista estaria disposto a submeter novos equipamentos para avaliação.
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