A justiça precisa de psicólogos ‘treinados em extremismo e radicalização’
Cláudia Oliveira Porto, procuradora do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que investiga o terrorismo, considera que faltam competências psicológicas no domínio da radicalização e do extremismo para ajudar os tribunais e as investigações.
Num comunicado gravado pela Justiça TV, Cláudia Oliveira Porto considerou que “é urgente o apoio da psicologia para que os tribunais se concentrem nesta área” e sublinhou que este caminho deve ser profissionalizado.
“Não basta estudar as leis de combate ao terrorismo, não basta ter uma formação geral em psicologia, é necessária uma formação psicológica especializada no domínio da radicalização e do extremismo”.
Os procuradores sublinharam que o extremismo e a radicalização são fenómenos distintos do crime.
“Isto não é o mesmo que vigiar os jovens infratores, que é o crime mais comum. É completamente diferente porque se trata de ideologia. É preciso perceber o que estes jovens defendem, as suas motivações, é preciso perceber Este fenómeno a nível internacional está muito além da nossa preparação e temos de nos adaptar”, disse Cláudia Oliveira Porto.
Nestas declarações, captadas pela Justiça TV durante uma formação no Centro de Estudos Judiciários, o procurador revelou que há vários casos que exigem investigação, e nem sempre partem das pessoas mais óbvias.

“Tive um caso em que um pai incentivou o filho a agir. Fique sempre de olho nos adolescentes e tente investigar o que aconteceu com o pai ou a mãe deles. comportamento discriminatório e ideologia de extrema direita.
Os investigadores do terrorismo dizem que estes casos não ocorrem apenas em ambientes sociais vulneráveis. “Há um caso como esse em uma das melhores escolas de uma importante cidade do país. Esse padrão é completamente diferente do banditismo e da criminalidade juvenil”, afirmou.
António Costa Alves, coordenador da unidade antiterrorismo da Polícia Judiciária, lamentou que a falta de recursos tenha deixado a força sobrecarregada.
“Portugal tem muitos planos, mas na prática eles não funcionam. Vemos muitas vezes a polícia judiciária desempenhar um papel pelo qual não deveria ser responsável, ou seja, monitorizar estas medidas de execução após o facto”.
Antonio Costa Alves também acredita que há um caminho que a sociedade pode percorrer, começando pelas escolas.
“As escolas, por seu lado, deveriam ser mais proativas no combate ao discurso de ódio e isto porque a maioria dos jovens vive numa bolha digital e só conhece esta realidade. este não é o caminho a seguir e apontar quais serão as consequências”, disse o coordenador da Unidade Antiterrorismo da PJ que está a receber formação sobre cibercrime e assuntos relacionados.